São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Socialismo nos EUA?

A ideia gera críticas entre os conservadores

MARK LEIBOVICH
ENSAIO

Os conservadores de Washington podem estar buscando um líder espiritual, um princípio organizador e uma nova identidade, mas pelo menos parecem concordar sobre o monstro favorito na retórica: o socialismo. Por exemplo: "Os democratas estão tentando impor o socialismo aos U.S.S.A.", diz um adesivo de para-choque, sob as palavras "Camarada Obama".
Parece que "socialista" superou "liberal" como xingamento preferido entre grande parte de um mundo conservador que sofre o golpe combinado de socorro a bancos, explosão de orçamento e leis de estímulo. Blogueiros e âncoras de rádio de direita estão desgastando a palavra. Republicanos na Câmara e no Senado têm se debruçado em seus pódios para invocá-la. A "bomba S" tornou-se uma maneira tão certeira de provocar reações em reuniões conservadoras quanto foi "Clinton" na década de 1990.
"Recentemente escutamos o melhor vendedor do socialismo no mundo dirigir-se à nação", disse recentemente o senador republicano Jim DeMint, da Carolina do Sul, referindo-se, naturalmente, a um certo socialista-em-chefe.
O ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, condenou a criação de "repúblicas socialistas" nos EUA. "Lênin e Stálin adorariam essa coisa", disse Huckabee, falando na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC na sigla em inglês).
"O socialismo é algo novo para atingirmos Obama na cabeça", disse Joshua Bolin, de Augusta, Geórgia, fundador do site Reagan.org, que ele chama de a resposta conservadora ao influente site progressista MoveOn.org.
É claro que não há nada de novo em "socialismo", ou na disposição dos conservadores a atingir a oposição na cabeça com o termo, assim como xingadores progressistas tacharam conservadores de "fascistas", "fundamentalistas" e "plutocratas" durante décadas. Mas o mantra socialista fez um retorno em grande escala depois de um longo período de relativa dormência. A era contemporânea de demonização do socialismo data da campanha eleitoral, quando John McCain e sua companheira de chapa, a governadora do Alasca, Sarah Palin, acusaram repetidamente Obama de querer "espalhar a riqueza".
O precoce ativismo fiscal de Obama forneceu mais ração aos antissocialistas, efetivamente transformando um rótulo útil, destinado a inspirar medo, em um insulto. A recente tempestade de fatos econômicos -o novo Orçamento do governo, sua aquisição parcial de mais um grande banco- foi um momento fortuito para a CPAC, que ocorreu de 26 a 28 de fevereiro, dando aos conservadores a oportunidade de verbalizar plenamente o refrão reformulado.
"A direita usou 'socialista' contra Franklin Roosevelt o tempo todo na década de 1930", disse Charles Geisst, historiador financeiro do Manhattan College em Nova York. "Ouvir chamá-lo de Camarada Roosevelt naquela época não era raro." Mas enquanto o socialismo está sendo invocado repetidamente hoje, disse Geisst, é um golpe menos potente do que já foi.
Bernie Sanders, de Vermont -um verdadeiro socialista no Senado dos EUA-, concorda, dizendo que "socialismo" costumava conter um estigma instantâneo, dada sua associação com o comunismo ao estilo soviético.
Mas como hoje restam tão poucos regimes comunistas, e gerações cresceram desde o fim da Guerra Fria, esse estigma foi atenuado.
Sanders disse que se animou ao ver que até alguns críticos conservadores -ele cita Newt Gingrich- parecem estar comparando a agenda econômica de Obama ao "socialismo ao estilo europeu", como se quisessem conscientemente distingui-lo da antiga safra soviética do termo.
"Acho que este país precisa de um bom debate sobre o que acontece em lugares como Suécia, Noruega e Finlândia", diz Sanders, afirmando que ideias como assistência à saúde universal, mais verbas para a educação e maior carga fiscal sobre os ricos têm modelos acessíveis nesses países.
Mas quando o deputado republicano Mike Pence, de Indiana, denunciou o "socialismo ao estilo europeu" em seu discurso na conferência, os aplausos do público não indicaram exatamente uma abertura ao debate sobre seus méritos. Ou, nesse sentido, qualquer disposição a diferenciar os sabores sueco, soviético e de Washington.
"A palavra tem mais repercussão em lugares onde ninguém vai discriminar entre os vários significados do termo", disse Geisst.
E um desses lugares poderia ser a CPAC. "Socialismo é um conceito de cor ousada para os conservadores", disse uma celebridade do CPAC, a comentarista Bay Buchanan. Ela comparou as distinções de "cor ousada" com os "pastéis pálidos" que os conservadores usam há tempo demais.
Buchanan disse que "socialista" teve um longo hiato como insulto nos últimos anos, mas foi um instrumento eficaz para derrotar o esforço de Bill Clinton (1993-2001) para reformar o sistema de saúde no início dos anos 1990.
"Os americanos são geneticamente avessos ao socialismo", disse Matt Kibbe, presidente da FreedomWorks, grupo de ativistas conservadores.


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