São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Confiante, Índia dá de ombros à crise econômica global

Por HEATHER TIMMONS

NOVA DÉLI - Enquanto a maior parte do mundo se debate com uma paralisante crise econômica e uma recessão, o otimismo predomina na Índia, cuja economia continua crescendo.
Dona de um PIB de US$ 1 trilhão, a Índia permanece sendo um ponto relativamente brilhante, segundo alguns, em parte por causa da sua burocracia e das políticas protecionistas que a mantiveram isolada dos efeitos da crise global.
"A Índia não é tão vulnerável [quanto outros países]", afirmou Rajeev Malik, diretor de economia indiana e do Sudeste Asiático na Macquarie Capital e autor de um recente relatório intitulado "Índia: melhor que a maioria".
Em 27 de fevereiro, a Índia divulgou que sua economia crescera 5,3% no quarto trimestre, em comparação a um ano antes. Embora aquém dos 7,6% do trimestre anterior, é um forte contraste em relação a outros países. Os EUA, por exemplo, divulgaram no mesmo dia que o PIB do quarto trimestre se contraíra a uma taxa anual de 6,2%, e o Japão recentemente informou que sua economia encolheu a uma taxa anual de 12,7%.
Mesmo após a divulgação das cifras, o governo indiano prometeu que a economia crescerá mais de 7% neste ano.
Defensores da livre iniciativa costumam se queixar de muitas políticas econômicas da Índia, inclusive com relação ao sistema financeiro, dominado pelo Estado e praticamente desconectado dos mercados externos, e às exportações, cujo crescimento é travado pela burocracia e a falta de infraestrutura. Mas tais políticas ajudaram o país a se manter enquanto o mundo desliza para uma recessão.
O ágil Banco Central da Índia, que ainda tem margem para cortar juros, contribuiu para facilitar os fluxos de capital, enquanto o governo interveio com cortes de impostos e gastos públicos.
Isso não significa que todas as notícias sejam boas. Tanto a agricultura quanto a indústria se contraíram no último trimestre, e os pacotes de estímulo podem acabar prejudicando o país a longo prazo.
Em 24 de fevereiro, a Standard & Poor's alterou sua avaliação da dívida soberana indiana de longo prazo, que passou de estável a negativa, por causa do aumento nos gastos públicos. O déficit público em termos de percentual do PIB deve dobrar, atingindo 11,4% no próximo ano fiscal, um nível "insustentável a médio prazo", segundo analistas da empresa.
Além disso, a maioria das previsões otimistas não levou em conta que milhões de indianos dependem das remessas de dinheiro de parentes no exterior. A Índia é o país que mais recebe essas remessas -US$ 20 bilhões por ano. Algumas regiões, como o Estado de Kerala, devem ser especialmente afetadas pela perda de empregos na construção civil do Oriente Médio.
Mas, em outras zonas, os bons tempos econômicos são mais que apenas uma lembrança distante. A capitalização de mercado do State Bank of India recentemente superou a do Citigroup, fato alardeado na imprensa local. A Índia ganhou 15,4 milhões de usuários de celular em janeiro, um recorde. "Será esta recessão para valer?", perguntou o jornal "Times of India" em artigo em 1? de março.
Executivos já falam como se a retomada do boom fosse iminente. "É razoável pressupor que a Índia estará entre os primeiros a se recuperar quando a recuperação começar", disse Nandan Nilekani, copresidente da Infosys Technologies, durante uma recente apresentação em Nova Déli.
Mas há quem ache as expectativas otimistas completamente equivocadas. "Não sabemos o que o pessoal daqui anda fumando", disse Shankar Sharma, diretor da empresa de pesquisas e administração de patrimônio First Global, com escritórios em Mumbai, Londres e Nova York. Ele prevê que o crescimento econômico da Índia para o ano fiscal de 2010 irá despencar para 2,6%. Quem cita a baixa dependência indiana em relação a exportações não está levando em conta os setores da terceirização e da tecnologia da informação, disse ele.
Alguns indianos dizem que preferiam sofrer agora, com o resto do mundo, para desfrutar os benefícios de uma reforma econômica mais tarde. "Nestes dois a três anos, nos sairemos melhor do que o resto do mundo por causa das várias restrições que mantivemos", afirmou Gurcharan Das, ex-executivo-chefe da Procter & Gamble no país e autor de "Índia Desatada", um estudo sobre o potencial do país e suas transformações econômicas.
"Toda uma geração poderia ser resgatada da pobreza para a classe média se tivéssemos feito essas reformas."


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