São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Ensino de inglês dissemina cultura americana no Egito

Por MICHAEL SLACKMAN

BENI SUEF, Egito - Os Estados Unidos gastam muito dinheiro no Egito: cerca de US$ 1,7 bilhão em ajuda anual, a maior parte da qual vai para a compra de armas e apoio aos militares. Também há uma enorme Embaixada americana no Cairo, que só perde para a nova no Iraque.
Os EUA também gastaram cerca de US$ 2 mil nos últimos dois anos para ensinar Yousra Yousef a falar inglês. Ela é uma garota de 15 anos de Asyut, uma das cidades mais conservadoras do país, que já foi uma incubadora do extremismo islâmico. As autoridades de Washington se aborreceram com o custo do aprendizado de Yousef, disse uma autoridade local, porque em outros países o mesmo programa custa cerca de US$ 1 mil por aluno.
"O mais importante que aprendi é a respeitar as diferenças", disse Yousef com um sorriso.
Ela disse isso em inglês, expressando uma ideia considerada rebelde em uma sociedade que valoriza e incentiva a conformidade. Yousef aprendeu a nova língua e suas formas de pensamento como parte do Access, um programa extracurricular de inglês. Desde sua criação, em 2004, ele já ensinou 32 mil estudantes em 50 países.
O Access chegou ao Egito há cerca de dois anos, e 182 adolescentes do país, cristãos e muçulmanos, de ambos os sexos, se formaram no programa. A única exigência era que eles viessem de famílias pobres.
O programa nunca foi promovido como parte da iniciativa do governo de George W. Bush para levar a democracia ao Oriente Médio e talvez não tenha sido concebido nesses termos. Mas os jovens dizem que ele mudou suas vidas, levando-os a aceitar a diversidade, a tolerância e o compromisso, os fundamentos de uma sociedade democrática e pluralista.
"Tudo na minha vida é diferente hoje", disse a garota Manal Adel Ahmed, 16, também de Asyut. "Antes eu tinha medo de tratar com qualquer pessoa diferente, achava que era ruim. Hoje acho importante conhecer outras pessoas e outras culturas."
O curso enfatiza o aprendizado de inglês, mas também visa disseminar uma melhor compreensão da cultura americana, que muitas vezes é totalmente estranha para os jovens egípcios.
Depois de terminar o curso de dois anos, um grupo de garotas participou de um acampamento de três dias a cerca de uma hora e meia de carro do Cairo. O acampamento se realizou no Centro Mediterrâneo para o Desenvolvimento Sustentável, um oásis murado em uma região pobre e seca do Egito onde muitas pessoas dividem suas casas com animais domésticos.
"Você não pode construir uma democracia só dizendo 'Nós adotamos o regime democrático'", disse Adly Hassanein, dono do centro, com sua mulher. "Você tem de construir a democracia no coração dos jovens."
Existe um componente potencialmente polêmico no programa, que é criar afeição pelos Estados Unidos. Mas isso não pareceu incomodar os estudantes, mesmo quando eles foram solicitados a acenar bandeirinhas americanas para receber a embaixadora americana no Egito, Margaret Scobey, que parou para visitá-los.
"A primeira pergunta [dos alunos] à embaixadora foi: 'O que poderemos fazer a partir de agora?'", disse Robert Lindsey, coordenador do Access no Egito para o Departamento de Estado dos EUA.
Os alunos pareceram decepcionados com a resposta. Souberam que não havia mais etapas no Access, que poderia ajudá-los a entrar em outros programas, mas isso caberia a cada um deles. "Já demos o primeiro passo, agora queremos dar o próximo", disse o aluno Bishoy Wanees, 15.


Colaborou Mona el-Naggar


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