São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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Bolsa de NY encolhe ante aumento de transações de mercados rivais

Por GRAHAM BOWLEY

A Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) foi fundada há 217 anos sob um plátano em Wall Street e, durante quase todos os anos desde então, foi o maior templo do capitalismo americano.
Por trás de sua fachada em estilo greco-romano, corretores promoviam uma balbúrdia dantesca na busca diária pelo todo-poderoso dólar. Em épocas boas ou ruins, a ação diária em seu cavernoso pregão fez da chamada Big Board o maior mercado mundial de ações. Mas, agora, a NYSE e sua cidade natal estão enfrentando uma realidade perturbadora: a Big Board, coração simbólico da indústria financeira de Nova York, está encolhendo.
Rivais jovens e ágeis estão dividindo seu mercado público e criando mercados privados que, dizem críticos, conferem aos grandes bancos e fundos de investimentos uma vantagem sobre os investidores comuns.
Alguns dos novos locais de compra e venda de ações -"dark pools", ou "poços escuros", como são chamados no setor- são quase invisíveis, mesmo para reguladores. Esses mercados possibilitam a negociantes comprar e vender grandes blocos de ações em segredo e com rapidez, prática que vem atraindo o escrutínio da Comissão de Valores Mobiliários (SEC).
Esses pregões novos são totalmente diferentes da Big Board tradicional, que luta para funcionar como corporação com fins lucrativos após séculos em que foi propriedade de membros com direito a assentos no conselho. No ano passado, sua empresa mãe, a NYSE Euronext, teve perdas de US$ 740 milhões.
O julgamento de Wall Street foi rápido e brutal. Desde janeiro de 2007, o preço da ação da NYSE Euronext perdeu quase 75% de seu valor, embora as transações com ações tenham aumentado muito como um todo.
Ao mesmo tempo em que a NYSE tem estado sob ataque desde o início da década, seu declínio se acelerou nos últimos anos, concomitantemente com a chegada de concorrentes agressivos. Hoje, 36% das transações diárias com ações listadas na Bolsa de Nova York são de fato executadas na Bolsa, contra cerca de 75% há quatro anos. O restante é feito em outros lugares, em novas Bolsas eletrônicas ou via "poços escuros".
A velha Big Board estava longe de ser perfeita. Seus corretores do pregão -que ocupam um nicho privilegiado e potencialmente lucrativo, intermediando entre compradores e vendedores- em algumas instâncias enriqueceram às custas de seus clientes.
Mas as mudanças verificadas no salão nobre do NYSE são espantosas. Durante décadas, a Bolsa de Nova York foi o tipo de lugar no qual filhos seguiam o caminho de seus pais, indo trabalhar no pregão. Nos últimos cinco anos, porém, metade dos empregos no pregão deixou de existir. Muitos dos cerca de 1.200 corretores remanescentes se retiram em silêncio para diante de seus computadores assim que o sino toca para assinalar a abertura do pregão, às 9h30 de cada manhã.
A Big Board foi forçada a fechar 1 de seus 5 pregões e repovoou dois outros com negócios da Bolsa de Valores Americana (Amex), que a NYSE Euronext adquiriu no ano passado. Seu salão nobre -inaugurado em 1903- às vezes parece ser pouco mais do que um pano de fundo para as transmissões do canal de notícias CNBC.
"A coisa não tem sido bonita de se ver", disse Benn Steil, do Conselho de Relações Exteriores em Nova York. "Todas as grandes Bolsas tradicionais no mundo vêm passando pelo mesmo fenômeno, mas a que apanhou mais foi a Bolsa de Nova York."
É um revés surpreendente para a Bolsa de Valores e para a própria Nova York. A cidade, no passado a indiscutível capital do dinheiro, hoje luta para conservar sua hegemonia no mundo financeiro, enquanto a indústria financeira se globaliza. A Big Board diz que está lutando contra as mudanças -e que seu híbrido de computadores e corretores humanos conseguirá derrotar os novos rivais. A Bolsa reduziu suas comissões e desenvolveu sua própria Bolsa puramente eletrônica, Arca, em Chicago. A Arca capturou até agora cerca de 11% do mercado das ações listadas na Big Board e está conquistando negócios em áreas como a dos derivativos.
"O que acontece aqui é uma reinvenção", disse Lawrence Leibowitz, diretor da NYSE Euronext. "Como vamos fazer esta instituição avançar no século 21?"


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