São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Forte crise energética atormenta o Paquistão


Oficinas e salões de festas silenciam em intervalos regulares

Por SABRINA TAVERNISE
LAHORE, Paquistão - O Taleban local pode estar tramando ataques, e a economia vacila. Hoje em dia, porém, o sofrimento que mais atormenta os paquistaneses é algo tão básico quanto uma lâmpada elétrica.
O país está mergulhado em uma crise energética. Os paquistaneses estão tendo de suportar mais ou menos 12 horas diárias sem eletricidade provação difícil que faz o gelo derreter e que está deixando furiosa a população já cansada, exatamente no momento em que começa o calor escaldante do verão.
Em um esforço para frear a frustração, o governo paquistanês promoveu uma reunião de emergência recentemente, com burocratas de alto escalão de todo o país. Mas, em vez de aliviar o problema, a reunião o agravou, já que resultou em medidas de economia de energia que parecem calculadas para acabar com alguns dos últimos prazeres que ainda restavam aos paquistaneses.
"Estão brincando conosco", disse Amina Ali, mãe da noiva num salão de casamentos que, devido às novas restrições de economia de energia, recebeu ordens de fechar cedo.
Analistas dizem que, se continuarem, os cortes de energia podem desestabilizar o país. O Paquistão precisa urgentemente que sua economia cresça para abrir espaço para sua crescente população jovem, e os cortes crônicos de eletricidade têm efeito contrário.
A crise é fruto de uma teia de responsabilidades não cumpridas, e não será fácil desemaranhá-la. Ela tem um elenco de culpados que remete a anos: governos incapazes de planejar, burocratas que aceitam propinas, e até cidadãos comuns que roubam cerca de 30% de toda a energia produzida. As regiões tribais no oeste do país, por exemplo, não têm medidores de consumo de energia e nunca pagaram pela eletricidade que consomem.
O resultado é cerca de US$ 2 bilhões por ano em energia gerada pela qual ninguém paga. Especialistas se dizem céticos quanto à possibilidade de o governo conseguir fechar o desnível crescente entre a demanda de energia e a capacidade de produzi-la.
"Não há ninguém em Islamabad seguindo um plano coerente e integrado", disse um executivo do setor, pedindo anonimato.
Foi por isso que pareceu especialmente enfurecedor quando o governo ordenou o fechamento de lojas no horário nobre comercial, 20h, e o fechamento dos salões de casamento às 22h. Casamentos são importantes oportunidades de entretenimento no Paquistão e costumam prosseguir até tarde da noite, com dança, luzes e muito brilho.
"Será que deveríamos só ficar em casa, no escuro, e ir dormir?", disse a senhora Ali, furiosa, enquanto aguardava diante do salão de banquetes Mughal-eAzam, cujos proprietários tinham sido avisados na noite anterior que o local teria que ser fechado às 22h. Nervoso, um dos proprietários, Moazzam Ilyas, tentava apressar o evento, embora, às 21h45, o noivo ainda não tivesse chegado.
Na cidade velha de Lahore, um labirinto antigo de vielas estreitas repletas de oficinas de trabalho com metal e couro, o som das serras circulares para abruptamente às 16h. Velas são acesas, e o único ruído que se ouve então é o de marteladas.
"Não há renda; estamos muito preocupados", disse Mirza Arif Beg, 33, polidor de metais cujo negócio familiar está indo de mal a pior. "Nós nos sentimos impotentes. Será que deveríamos partir para o crime?"
As restrições parecem ameaçadoras, mas poucos acreditam que durem muito tempo. A continuidade nunca foi uma das qualidades do Paquistão, e parece improvável que as medidas de economia de energia sejam exceção. "As coisas vão continuar assim por uns dez dias e depois voltarão a ser como antes", disse Ilyas. Esse é o jeito paquistanês.
Colaborou Waqar Gillani


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