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São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Contra o terrorismo, a "decapitação" de grupos

Por STEVEN LEE MYERS
BAGDÁ - É difícil criticar o combalido premiê Nuri al Maliki por alardear o recente assassinato de dois líderes da Al Qaeda no Iraque como sendo um golpe letal contra o grupo terrorista.
A "decapitação" de grupos insurgentes, como é chamada, há muito tempo é vista como a bala de prata do contraterrorismo. Comandantes militares e, especialmente, líderes políticos raramente resistem à tentação de adotar tal estratégia -pense em "Osama bin Laden, vivo ou morto"- como atalho para o fim da "guerra ao terror" dos EUA.
Mas raramente é tão fácil. A morte anunciada em janeiro do líder do Taleban paquistanês, Hakimullah Mehsud, por um avião teleguiado dos EUA, não só não neutralizou os combates como talvez nem tenha realmente ocorrido, conforme disseram autoridades recentemente.
Mesmo assim, o otimismo de Maliki pode não ser inteiramente equivocado, porque em algumas circunstâncias as decapitações funcionam. Entender quais são essas condições ajuda a explicar também por que a Guerra do Iraque pode acabar de forma diferente da do Afeganistão. A Al Qaeda no Iraque não foi derrotada, mas recentes pesquisas acadêmicas sobre a morte de líderes como estratégia sugerem que, neste caso, o grupo pode ter realmente ficado mais perto do fim não tanto porque os bombardeios foram precisos, mas porque os iraquianos perderam o respeito pela organização.
"A decapitação não tem um grande histórico em acabar com grupos por si só", disse por e-mail Audrey Kurth Cronin, escritora e professora da Escola Nacional de Guerra, em Washington. Mas seu novo livro, "How Terrorism Ends" (Como o terrorismo acaba, Princeton University Press), delineia circunstâncias sob as quais grupos terroristas chegaram ao fim nos últimos dois séculos. "Quando a decapitação é mais efetiva", acrescentou ela, "isso se deve a várias coisas". No Iraque, o fator mais significativo tem sido a erosão da popularidade da Al Qaeda nos últimos anos.
No auge da violência ali, o grupo na prática governava cidades, aldeias e até regiões inteiras, com o apoio explícito ou ao menos tácito dos iraquianos. Assim como o Taleban atualmente em partes do Afeganistão e Paquistão, a Al Qaeda no Iraque podia operar abertamente, recrutar combatentes e angariar verbas, já que usava o terrorismo para travar uma insurgência contra uma potência ocupante."
No entanto, os iraquianos acabaram se frustrando com a ideologia islâmica do grupo, com sua liderança estrangeira e com seu uso indiscriminado da violência, que matou tantos civis iraquianos quanto americanos "ocupantes". Isso, junto com o reforço militar dos EUA em 2007, foi o que mudou a dinâmica no Iraque.
Para Peter Bergen, da Fundação Nova América, de Washington, "a marca Al Qaeda no Iraque está horrivelmente manchada", refletindo a ideia de que o terrorismo, no fundo, é uma campanha pela lealdade do consumidor.
É aí que entra a decapitação. A questão agora é se o grupo pode se recuperar da perda de dois líderes: Abu Ayyub al Masri, que foi seu comandante militar, e Abu Omar al Baghdadi, o ideólogo-chefe.
Uma recente análise estatística de Jenna Jordan, do Projeto Chicago sobre Segurança e Terrorismo, publicado na revista "Security Studies", concluiu que a remoção de um líder terrorista conseguiu derrotar um grupo em apenas 17% das vezes. Tendo estudado 298 assassinatos ou prisões de líderes de 1945 a 2004, Jordan concluiu que "a utilidade marginal da decapitação é na realidade negativa", porque o martírio pode motivar os militantes.
Mas ela concluiu que outros fatores, como idade e tamanho do grupo, podem mudar as coisas: quanto menor e mais jovem é um grupo terrorista, por exemplo, é mais provável que a decapitação funcione.
É revelador que o braço político da Al Qaeda no Iraque tenha admitido a morte dos dois líderes, mas não tenha anunciado seus substitutos, como fez em 2006 após a morte do seu fundador, Abu Musab al Zarqawi.
Uma das diferenças desta vez, acreditamos, é que restam menos líderes carismáticos e provados em combate na Al Qaeda que possam assumir um papel de liderança tão efetivamente quanto no passado, disse o general de brigada Ralph Baker, subcomandante das forças americanas em Bagdá.


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