São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Walmart cultiva novo mercado na Índia

Por VIKAS BAJAJ
HAIDER NAGAR, Índia - À primeira vista, as hortas da aldeia de Haider Nagar, no norte da Índia, em nada diferem de tantas pequenas propriedades que pontilham o país.
De perto, no entanto, os visitantes observam experiências curiosas: armadilhas para insetos feitas com sacos plásticos reutilizáveis, bambus ajudando pés de melões a ficarem maiores e mais retos; mudas germinando em bandejas de plástico sob telas finas.
São inovações de baixa tecnologia, certamente, mas cruciais para as metas da empresa -a gigante norte-americana Walmart- que as forneceu.
Dois anos após chegar à Índia, o Walmart tenta fazer na agricultura do país o que fez em indústrias do mundo todo: alterar modelos de negócios usando suas práticas hipereficientes para melhorar a produtividade e acelerar o fluxo de produtos.
Muitos ativistas e autoridades da Índia, no entanto, abominam essa grande rede varejista, temendo que ela tome o lugar de milhões de pequenos comerciantes. O governo proíbe o Walmart e outras companhias estrangeiras de vender diretamente aos consumidores.
Mas o Walmart persiste, porque seu esforço na Índia é essencial em sua estratégia global de crescimento. Diante de mercados saturados nos EUA e em outros países desenvolvidos, a empresa precisa estabelecer uma presença maior nos mercados emergentes, como a Índia, onde lojas modernas representam apenas 5% do setor varejista.
Estabelecer boas relações com os agricultores é uma peça central nos planos da companhia. Embora o Walmart ofereça na Índia muitos dos seus produtos tradicionais, como roupas, eletrônicos e produtos domésticos, talvez nada seja tão essencial quanto comida. O Walmart precisa de produtos de alta qualidade a preços baixos, para atrair um grande volume de clientes.
Os desafios são significativos. Comprar e transportar produtos são tarefas difíceis, porque a Índia tem milhões de produtores rurais de pequena escala e um sistema agrícola repleto de atravessadores.
Em Haider Nagar, no Estado do Punjab (noroeste da Índia), os agricultores que fornecem legumes e verduras ao Walmart se dizem satisfeitos com a companhia, que lhes paga 5% a 7% acima do preço nos mercados atacadistas locais. E eles dizem que não precisam pagar o transporte, porque o Walmart passa e recolhe os produtos.
Abdul Majid, que vende pepinos à rede varejista, diz que sua produtividade cresceu cerca de 25% desde que ele começou a seguir as orientações, oferecidas pelo Walmart e por sua parceira Bayer CropScience, sobre quando aplicar fertilizantes e de que tipo.
Mohammad Haneef, agricultor numa aldeia próxima, disse que vendia para duas outras empresas antes de fornecer para o Walmart, mas uma fechou, e a outra o enganava e demorava a pagar. O Walmart é muito melhor, disse ele, mas seus compradores são exigentes, levando os melhores legumes e deixando-o com os inferiores, que ele entrega aos mercados atacadistas.
"Você tem de estabelecer confiança", disse ele em hindi. "O Walmart tem pagado em dia. Queríamos que eles comprassem mais."
Muitas empresas indianas abandonaram ou reduziram significativamente seus esforços para manter supermercados. Algumas cresceram muito rápido e se esgotaram. Muitas outras esbarraram nos inúmeros nós que restringem a agricultura indiana: as leis limitam quem pode comprar as safras agrícolas; cerca de 35% dos legumes, frutas e verduras são desperdiçados por causa do transporte ineficiente; os agricultores ganham muito pouco para poder investir em suas pequenas lavouras.
O Walmart também está limitado pela proibição de que redes varejistas estrangeiras vendam diretamente aos consumidores indianos.
"Não ter acesso às nossas próprias lojas de varejo, por meio dos nossos próprios investimentos, é um sério empecilho", disse Raj Jain, que dirige a operação indiana do Walmart. "Como pagar toda aquela grande retaguarda se você não terá acesso à parte da frente?" Atualmente, o Walmart é sócio em partes iguais da Bharti Enterprises, dona também da maior empresa de telefonia celular do país. A parceria, chamada Bharti Walmart, abastece lojas que são propriedade integral da Bharti e possui um atacado que vende para comerciantes, hotéis e outras empresas.
Na década de 1990, o Walmart abriu lojas na China, no México e no Brasil, países onde hoje possui centenas de unidades. Comparativamente, a Bharti Walmart é só uma loja de atacado, que em breve abrirá duas filiais.
O Walmart já passou dois anos construindo relações com agricultores e fornecedores. Ele está erguendo um grande centro de distribuição perto de Nova Déli para abastecer lojas da Bharti, sob a marca Easy Day, na capital e nos arredores.
Jain está otimista. Disse que a empresa agregará mais agricultores e lojas no Punjab e no Estado vizinho de Haryana, para então se expandir mais. É um "experimento controlado", segundo ele. "Vai demorar algum tempo para se tornar sustentável e economicamente viável. Então, quando acontecer, precisamos levar isso para algumas outras geografias para testar o modelo."


Texto Anterior: Comércio de Xangai esconde itens pirateados
Próximo Texto: Espanha adia reforma fiscal vital
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.