São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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GUY TREBAY - ENSAIO

Mudanças remodelam bairro de confecções


Região atrai novo público, além de entusiastas da moda michael nagle para o New York Times Cenas como esta, de produção de cintos, já foram comuns em todo o Garment District, em NY

Em que o bairro das confecções de Nova York (Garment District) se parece com um recife de coral? Um recife abriga diversas espécies de esponjas, cobras e peixes. Isso também acontece no bairro. Um recife é um universo rico, com sua própria arquitetura de evolução orgânica. Os edifícios do bairro também.
Mergulhe junto de um recife e flutue na corrente e, como disse recentemente a estilista Yeohlee Teng, "você nunca sabe o que vai nadar perto de você".
Teng estava diante de um prédio na extremidade da rua 36 Oeste, uma estrutura de 17 andares não muito diferente de outros prédios dessa área -que já produziu quase 90% de todas as roupas fabricadas nos EUA.
Esse predomínio começou a declinar há 50 anos, na época em que a fabricação de roupas em grande escala iniciou sua migração para outras terras, muito antes do final da década de 1990, quando investidores imobiliários espertos começaram a colecionar e colonizar um estoque incomparável de construções desvalorizadas na região média de Manhattan.
Novos construtores habitaram seus velhos edifícios com pessoas que passaram a vida debruçadas não sobre máquinas de costura, mas sobre teclados de computador. E, gradualmente, o bairro das confecções -área que durante um século serviu como motor de receita cívica, fronteira para trabalhadores imigrantes e gerador de inovação- começou a se parecer com os recifes do planeta em outro sentido. Começou a morrer.
"Os estilistas contam com um ecossistema de apoio altamente complexo", disse Deborah Marton, diretora-executiva da associação sem fins lucrativos Design Trust for Public Space (Fundo de Design para Espaços Públicos). Reconhecendo essa verdade, o Conselho de Estilistas de Moda dos EUA se associou em 2009 ao Fundo de Design para estudar um ecossistema comercial que estava perto de desaparecer antes que o colapso dos imóveis comerciais lhe desse um alívio improvável.
Esse estudo, que será divulgado em junho, descobriu que ainda hoje a indústria de roupas representa 28% de todos os empregos fabris na cidade de Nova York. Seus autores também concluíram que o Garment District é uma força cultural mais vital do que muitos imaginam, uma incubadora de ideias e inovação, um ímã para todos os esperançosos que procuram Nova York acreditando, como alegam os entusiastas, que a cidade é a capital mundial da moda.
"Venha!", ordenou Teng ao repórter enquanto começava a explorar o número 347 da rua 36 Oeste -uma ampla estrutura de 9.300 m2 projetada na década de 1930 pelos irmãos arquitetos George e Edward Blum, com um saguão de mármore e enormes elevadores de carga e com placas no piso grossas o suficiente para suportar pesadas máquinas industriais. "Vamos ver quem ainda está aqui."
Acontece que um equilíbrio frágil mantém o número 347 da rua 36 Oeste. Números da prefeitura indicam que aproximadamente 38% dos ocupantes do edifício são empresas relacionadas à moda. Os demais são um grupo diverso que inclui o escultor Keith Edmier, inquilino da cobertura; Steve Giralt, um fotógrafo; o Teatro Nacional de Comédia, que ocupa o piso no nível da rua; ou Amyas Naegele, comerciante de antiguidades africanas. "Quando comecei neste prédio, 14 anos atrás, eram só oficinas e eu", lembrou Naegele.
Na época, na hora da saída, o elevador do prédio virava um ponto de trânsito vertical de imigrantes.
Dezenas de trabalhadores de lugares como México, China, Guatemala, Equador e todo o Caribe embarcavam no elevador a caminho da cobertura, ele explicou, pela simples razão de que com frequência estava cheio demais para se embarcar na descida.
"Então, tudo mudou", ele disse. O edifício foi vendido há mais de uma década; seus novos proprietários contrataram um arquiteto para reformar o saguão e os antigos e decrépitos banheiros, para adicionar patamares de aço inoxidável em cada andar -ou seja, aumentaram os aluguéis. Em pouco tempo, as oficinas começaram a migrar para outros lugares, e chegaram pequenas empresas, como produtoras de cinema independentes.
"No início, todo o mundo dizia: 'Não vou me mudar para o bairro das confecções'", disse Barry Bernstein, diretor do grupo Winokur, agente administrativo do edifício, referindo-se às empresas que não são de confecção. "Mas aí perceberam que é muito conveniente em termos de transporte e que os aluguéis eram baratos, e então, de repente, todo o mundo diz: 'Vamos mudar para o bairro das confecções'."


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