São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Artistas evitam as gigantes da música

Por BRAD STONE

Houve um tempo em que a maioria dos aspirantes a músicos tinha o mesmo sonho: assinar um contrato com uma grande gravadora de discos.
Hoje, com a estrutura do setor musical em mudança radical, alguns iconoclastas do setor estão evitando as gigantes da música e inventando novas maneiras de os artistas fazerem e venderem suas criações -sem jamais assinar um tradicional contrato de gravação.
A última iniciativa foi de Brian Message, empresário da banda alternativa Radiohead, que distribuiu gratuitamente seu último álbum, "In Rainbows", via internet. Seu empreendimento, chamado Polyphonic e que foi anunciado no mês passado, tentará investir algumas centenas de milhares de dólares em artistas novos e ascendentes que não têm contrato de gravação, e então ajudá-los a criar relações diretas com o público pela internet.
"Os artistas percebem que voltar ao antigo modelo não tem sentido", disse Message. "Existe uma fome por novas maneiras de fazer as coisas."
A Polyphonic e novos empreendimentos semelhantes são sintomáticos das profundas mudanças no setor musical. Os grandes nomes -Sony Music, Warner Music, EMI e Universal Music- não têm mais um domínio tão firme da criação e da venda de música profissional, ou para cunhar sucessos com exposição destacada no rádio.
Grande parte disso tem a ver com a ascensão da web como meio de se promover e distribuir música. Percebendo essas mudanças, nos últimos anos, músicos pioneiros como Trent Reznor, Beastie Boys e Barenaked Ladies criaram selos dirigidos pelos próprios artistas e obtiveram recompensas significativas ao guardar para si uma parcela maior da receita.
No modelo da Polyphonic, as bandas que receberem investimentos da firma vão atuar como empresas novatas, gravando sua música e escolhendo terceiros para cuidar de sua publicidade, merchandising e turnês.
Em vez de receber um adiantamento e depois colher royalties se fizerem sucesso, os músicos vão partilhar todos os lucros de gravações e turnês. Outra diferença da tradição no setor musical é que eles também vão manter a propriedade de seus direitos autorais e gravações -o que significa que eles e seus herdeiros poderão continuar ganhando dinheiro com a música.
"Estamos vendo os grandes selos começarem a dispensar artistas que vendem somente 80 mil ou 100 mil unidades", disse Adam Driscoll, outro fundador da Polyphonic e executivo-chefe da empresa britânica de mídia MAMA Group. "Faça um cálculo rápido dessas vendas, com um artista que pode percorrer diversas cidades, e é um bom negócio. Você pode tomar isso como base e construir sobre ela."
Outro diretor da Polyphonic é Terry McBride, fundador da administradora Nettwerk Music Group, de Vancouver, Canadá, e empresário da banda Barenaked Ladies.
Os formadores da Polyphonic, que deram à companhia US$ 20 milhões em capital inicial, dizem que pretendem investir cerca de US$ 300 mil em cada banda.
Então a empresa vai orientar os músicos e seus gerentes empresariais para serviços como Topspin, que ajuda a administrar a presença on-line de uma banda, e a TuneCore, companhia que distribui música para serviços on-line como iTunes, Amazon e Napster. Os sócios dizem que recentemente tentaram levantar dinheiro para a companhia com capitalistas de risco do vale do Silício, mas encontraram um ceticismo inicial.
A Polyphonic, que será sediada em Londres e nos escritórios da Nettwerk em Nova York e Los Angeles, diz que pretende abordar novamente investidores privados depois de testar se seu modelo funciona.
A nova empresa terá muitas concorrentes explorando maneiras de os artistas manterem o controle de suas criações. Marc Geiger, agente da William Morris Endeavor que tentou um empreendimento semelhante no final dos anos 1990 chamado ArtistDirect, hoje desenvolve em sua agência um programa para músicos que será chamado Self Serve.
Geiger disse que não podia divulgar detalhes, mas que a Self Serve forneceria ferramentas e financiamento para artistas criarem empresas independentes das grandes gravadoras.
Até as grandes gravadoras têm demonstrado nova flexibilidade com músicos que não querem assinar as parcerias imersivas conhecidas como "acordos 360", em que o selo administra e lucra em todas as partes dos negócios do artista.
Em novembro, por exemplo, a EMI deu o passo incomum de criar uma divisão de serviços musicais para fornecer uma série de iniciativas -como apoio em turnês e em merchandising- para músicos não contratados pela gravadora.
"Todos sabemos que o papel que a gravadora tem exercido tradicionalmente precisa mudar", disse Ronn Werre, presidente da nova divisão da EMI. "Alguns artistas querem ter mais controle criativo e propriedade em longo prazo [de sua música] e podem querer assumir maior risco financeiro. Para ter sucesso, precisamos de grande flexibilidade no modo como trabalhamos com os artistas."


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