São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

JAMES B. STEWART
ENSAIO


Cultura da ganância permeia o UBS

Quando Kweku Adoboli foi preso por causa de um esquema de corretagem ilícito que deu a seu empregador, o banco global UBS, um prejuízo de US$ 2,3 bilhões, ele foi imediatamente rotulado de "corretor vilão", sugerindo que era um escroque sem princípios que atuou sozinho.
O UBS agiu rapidamente para se afastar. Adoboli havia se envolvido em negócios "não autorizados" e "fictícios" que "violaram os limites de risco do UBS", afirmou o banco em nota.
Adoboli permanece preso, suas atividades de corretagem estão sob investigação, enquanto em 24 de setembro o CEO da companhia, Oswald Grübel, demitiu-se.
O UBS sem dúvida espera que essas supostas atividades de corretagem se revelem uma aberração, um caso isolado de "malfeitos" nas fileiras de seus cerca de 65 mil funcionários em todo o mundo. Mas a corretagem não autorizada é apenas o último de uma série de lapsos éticos e jurídicos vindos do UBS que prejudicaram fortemente sua reputação outrora impecável. Nesse contexto mais amplo, os supostos lapsos de Adoboli foram realmente uma aberração? A cultura do UBS pode ser parcialmente culpada? E a direção do UBS vai fazer alguma coisa? O quê?
Adoboli, 31, natural de Gana, subiu na empresa até chegar à famosa mesa de corretagem de derivativos Delta One. Suas circunstâncias fazem lembrar Jérôme Kerviel, do Société Générale da França. Kerviel enfrenta uma pena de prisão de três anos por seus negócios não autorizados, que custaram ao banco cerca de US$ 7 bilhões em prejuízos.
Como no caso de Kerviel, não há provas de que Adoboli lucrou diretamente com seus negócios.
Mas a corretagem não autorizada de Adoboli parece consistente com uma cultura do UBS que enfatizava o avanço individual mais que os esforços de equipe, segundo antigos banqueiros de investimentos. "O problema não é a cultura", disse-me um deles. "O problema é que não havia cultura. Todo mundo é isolado. As pessoas fazem seus próprios negócios e é cada um por si."
A crise financeira tem assustado a maioria dos bancos mundiais, mas o comportamento do UBS se destaca. Em agosto de 2008 ele fez acordo em acusações apresentadas por Andrew Cuomo, então secretário da Justiça de Nova York, de que enganava seus clientes quando lhes vendia o que descrevia como títulos com grau de leilão livres de riscos, enquanto seus executivos sabiam que o mercado desmoronava. Depois que o mercado congelou e os investidores não puderam vender os títulos, os reguladores processaram o UBS, que concordou em pagar US$ 19,4 bilhões e uma multa de US$ 150 milhões.
Em maio deste ano, o UBS pagou US$ 160 milhões e admitiu que seus funcionários tinham conspirado para manipular ofertas no mercado de derivativos de títulos municipais.
Em 2009 o Departamento da Justiça alegou que o UBS havia conspirado para permitir que 17 mil americanos ricos se envolvessem em fraude fiscal e ameaçou com um processo criminal.
Em troca de um acordo para adiar a acusação, o banco concordou em pagar multa de US$ 781 milhões e divulgar os nomes dos investidores, efetivamente pondo fim à histórica tradição de sigilo dos bancos suíços.
A corrida do UBS para o mercado de títulos apoiados por hipotecas ruins antes que ele desmoronasse em 2008 é um dos piores fracassos da história bancária. O UBS absorveu incríveis US$ 38 bilhões de prejuízos e teve de ser socorrido pelo governo suíço.
Na minha opinião, o escândalo de Adoboli serve ao UBS como um catalisador para reformas.
Os problemas do UBS não são controles de risco inadequados ou a falta de regulamentação. O problema é se a cultura do UBS era de ganância pessoal.
O UBS deveria extirpar executivos com padrões éticos dúbios e pessoas que coloquem os interesses pessoais à frente do dos clientes -o que deveria ser o teste básico para qualquer um que diz ser um profissional.

Texto Anterior: Milhares voltam da Líbia ao Níger sem emprego
Próximo Texto: Construindo a harmonia entre gerações no trabalho

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.