São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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ENSAIO

O visual certo, parte 2

DAVID COLMAN

Se você tem sido perseguido ultimamente por uma vaga sensação de fim dos anos 1970, não é o único. Não é apenas porque, com a economia desabando, há paralelos assustadores entre os governos Bush e Carter. O cenário da moda masculina também está sentindo isso. Folheie as páginas de uma “GQ” de 30 anos atrás e encontrará tendências estranhamente familiares.
A revista proclamou 1978 “o ano do short”. Na capa de maio, um modelo usava uma “echarpe de verão” e em novembro as calças masculinas eram todas enfiadas em botas de cano alto com ar de explorador. Para o outono, a revista celebrou um choque de camadas, texturas e cores que davam uma sensação de sofisticação européia em um visual esportivo bem americano. Todas são tendências da moda atual.
Esse momento “fim dos anos 70” foi o auge do estilo misto chamado de Revolução do Pavão, iniciado no Reino Unido uma década antes. Neste final de década, a moda masculina, depois de anos tentando adotar coisas como coletes e chapéus de feltro em nome da metrossexualidade, está se tornando declaradamente estilosa e sofisticada. Esse impulso é cada vez mais promovido por uma geração jovem que, como relata uma pesquisa de setembro da “DNR”, o semanário setorial do vestuário masculino, realmente gosta de fazer compras, vendo nisso muito menos estigma do que os homens na faixa dos 40 anos.
A moda masculina deste outono pode parecer um pouco comportada, mas as roupas ficam melhores quando se considera como os homens as misturam com confiança hoje. Mais uma vez isso espelha a mudança de 30 anos atrás, quando uma geração de jovens estilistas, muitos deles americanos (como Calvin Klein e Ralph Lauren), começaram a enfatizar a idéia de um “estilo de vida”, mais que tentar atrair os homens para as roupas de “alta moda” que vinham da Europa.
Portanto não deverá surpreender que os estilistas e árbitros da moda tenham aproveitado os guias daquela época: cópias “vintage” de “GQ” e os manuais “cult” de Charles Hix: “Looking Good” (1977, com fotos de Bruce Weber), “Dressing Right” (1978) e “Working Out” (1983).
Bill Cournoyer, vice-presidente para roupas masculinas sob medida da Barneys New York, comprou vários exemplares antigos de “GQ” na eBay. “Há um clima e uma sensibilidade neles que realmente são aplicáveis hoje”, disse. “É meio clássico. Tudo tem a ver com camadas, e há uma certa masculinidade nos tecidos e nas cores e uma riqueza nos cáquis e marrons, a mistura de acessórios e as echarpes vaporosas que todo mundo está usando.”
Estilistas atuais como Tom Ford e Michael Bastian estão enfatizando visuais clássicos com um viés elegante.
“Tenho muitos livros de Charles Hix”, disse Bastian. “Algo deles entrou em todas as coleções. Não são só as roupas, é a vibração, que era supermasculina. Foi uma das primeiras vezes que os homens pegaram elementos de roupas sob medida, esportivas e de trabalho e os misturaram. É algo que hoje parece muito comum.”
Hix, 66, está surpreso de que as pessoas se lembrem de seus livros. “Tornou-se uma espécie de esporte caçoar deles na época. Só em retrospectiva estão se tornando importantes”, disse.


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