São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Museu dá uma visão prática da insanidade

Por ELISABETTA POVOLEDO

ROMA - O logotipo do Museu da Mente é um funil de boca para baixo. É uma referência a uma pintura do século 15, de Hieronymus Bosch, que mostra um médico usando um bisturi para extrair um objeto (a suposta “pedra da loucura”) do crânio de um paciente. O médico usa um funil como chapéu.
“É um dos mais antigos ícones da loucura”, disse Pompeo Martelli, psiquiatra e diretor do incomum museu, que fica na periferia de Roma, no antigo hospital psiquiátrico de Santa Maria della Pietà, fechado em 1978.
A pintura, hoje no Museu do Prado em Madri, convida à pergunta óbvia de quem é mais louco, o médico ou o paciente.
Derrubar preconceitos sobre a doença mental é o mote principal do Museu da Mente, que tem oito anos e reabriu no mês passado depois de uma reforma high-tech do Studio Azzurro, grupo de arte de Milão que trabalha principalmente com ambientes interativos e vídeo.
“A idéia foi torná-lo interativo, um museu que possa registrar e anotar as impressões dos visitantes”, disse Paolo Rosa, fundador do Studio Azzurro.
Em uma instalação, ao lado de uma placa que diz “De perto ninguém é normal”, os visitantes tentam sincronizar imagens gravadas e espelhadas de si mesmos. “Tem a ver com buscar um equilíbrio entre o que você é e o que você vê”, diz Martelli.
Em outra, os visitantes se sentam para uma fotografia projetada em um painel juntamente com fotos de antigos pacientes da instituição, que contam suas histórias de vida em monólogos gravados, tristes e hesitantes.
Outra convida o visitante a tapar os ouvidos e escutar sussurros de vozes invisíveis. “É um dos sintomas da loucura, não é?”, diz Martelli, sorrindo.
Explicando o conceito, Rosa, do Studio Azzurro, disse: “O espectador assume a loucura e adota inconscientemente a posição de alguém lá dentro. Nós não queríamos dramatizar, mas incluir o drama e deixar solta a dimensão imaginativa que a loucura provoca, que pode ser fértil mesmo para os que se consideram saudáveis”.
“É bom - uma maneira de esclarecer tudo o que aconteceu aqui”, disse Maria Morena, uma ex-enfermeira psiquiátrica do hospital que se lembra da época em que 60 pacientes moravam no mesmo pavilhão, comiam com colheres (nada afiado) e dormiam em lençóis tão duros que “raspavam como lixa”.
A professora Chiara Preti visitou o museu reformado para um curso e achou a experiência útil. “O museu defende que a deficiência mental é uma doença”, disse. “Ele não faz um julgamento moral ou político.”

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