São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Projetos para ir às estrelas

Viagem interestelar deixará o campo da ficção científica

Por KENNETH CHANG

ORLANDO, Flórida - Uma nave espacial sem um motor?
"O programa espacial, qualquer programa espacial, precisa de um sonho", disse o físico Joseph Breeden. "Sem sonhadores, nunca chegaremos a lugar nenhum."
Breeden falava em Orlando, não muito longe do local de lançamento dos feitos mais triunfais do programa espacial dos EUA.
Ele estava entre centenas de pessoas que em setembro participaram de um simpósio da Darpa (sigla em inglês da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada para a Defesa) a respeito do Estudo da Nave Espacial de 100 Anos.
Os participantes -uma eclética mistura de engenheiros, cientistas, fãs de ficção científica, estudantes e sonhadores- exploraram diversas ideias.
Entre elas, como organizar e financiar um projeto com duração de 100 anos; se a civilização iria sobreviver, já que um motor que impulsione essa nave também poderia servir para destruir o planeta; e se a viagem deve ser tripulada.
As distâncias são estonteantes. Em 10 mil anos, a velocidade dos humanos foi multiplicada por 10 mil, culminando com a viagem de volta da Apollo da Lua para a Terra.
Chegar às estrelas mais próximas num tempo razoável -décadas, não séculos- exigirá um salto de mais 10 mil vezes na velocidade.
Breeden, que recentemente concebeu equações que preveem os prejuízos dos bancos com empréstimos para o consumo, ofereceu a ideia de uma nave sem motor. Numa caótica dança gravitacional, estrelas às vezes são ejetadas a altas velocidades, e o mesmo efeito, segundo ele, poderia impulsionar naves.
Primeiro, ache um asteroide numa órbita elíptica, que passe perto do Sol. Segundo, ponha uma nave em órbita ao redor do asteroide. Se o asteroide puder ser capturado para uma nova órbita próxima ao Sol, a nave seria atirada numa trajetória interestelar, talvez com até um décimo da velocidade da luz.
Já na década de 1950, os cientistas perceberam que os motores atuais -queimando querosene ou hidrogênio- "bebem" muito combustível.
Eles projetaram motores nucleares que usam reatores para aquecer o hidrogênio líquido até criar um fluxo acelerado de gás. A Nasa tinha motores desse tipo preparados para uma hipotética missão tripulada a Marte, depois dos pousos na Lua.
Hoje, a agência espacial retomou esse trabalho, começando com estudos sobre um combustível ideal para um reator espacial, e novos motores nucleares podem estar prontos até o final da década. Quanto às preocupações com a radioatividade, os reatores só seriam ligados ao chegarem ao espaço.
"O espaço é um lugar maravilhoso para usar a energia nuclear, porque já é radioativo", disse Geoffrey Landis, cientista do Centro de Pesquisas Glenn, da Nasa, em Ohio (e autor de ficção científica).
Motores nucleares mais avançados poderiam gerar campos elétricos que fariam a propulsão acelerando íons. Então motores a fusão -produzindo energia pela combinação de átomos de hidrogênio- poderiam finalmente ser suficientemente potentes para as viagens interestelares.
O físico James Benford defendeu outra abordagem. Velas gigantes sobre a nave poderiam se inflar com feixes de fótons emitidos a partir da Terra por lasers ou antenas gigantes. "Eis um caso em que conhecemos a física, e a engenharia parece factível", disse ele.
O estudo de US$ 1,1 milhão -US$ 1 milhão da Darpa, US$ 100 mil da Nasa- vai culminar com a concessão de US$ 500 mil a uma organização que receberá o bastão para prosseguir as atividades.
A Darpa, por definição, se envolve em projetos sem uso militar imediato. (Na década de 1960, a agência estabeleceu os fundamentos da internet.)
"Eles querem que as pessoas pensem em um tópico e o propaguem muito sutilmente", disse Gregory Benford, também físico e autor de ficção científica (e irmão gêmeo de James Benford)."Querem que isso saia do orçamento até o começo do ano que vem."
Alguns oradores opinaram que a primeira meta para o próximo século deveria ser a colonização do Sistema Solar, começando por Marte.
Richard Obousy, presidente da Icarus Interstellar, uma organização de voluntários que já dedicou anos a projetos de naves, deixou clara a sua preferência com o seguinte lema: "Para as estrelas! Os covardes miram em Marte".


Texto Anterior: Ciência & Tecnologia
Beleza do náutilo pode ser sua ruína

Próximo Texto: Físicos acham partículas que viajam mais rápido que a luz

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.