São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

ANÁLISE ECONÔMICA

TYLER COWEN

Uma década frutífera para boa parte do mundo

David G. Klein

A impressão que se tem no momento pode não ser essa, mas é possível que os últimos dez anos fiquem gravados na história como um grande sucesso. Essa ideia pode ser difícil de aceitar nos EUA. Afinal, foi a década do 11 de Setembro, das guerras no Iraque e Afeganistão e da crise financeira, todos eventos dramáticos e dolorosos.
Mas, em termos econômicos, pelo menos, a década se destacou por ser positiva para muitas pessoas no planeta.
Os índices altíssimos de crescimento da China e da Índia são fartamente conhecidos, embora a ascensão delas faça parte de uma tendência mais ampla no desenvolvimento econômico dos países mais pobres. Os ideais de prosperidade, liberdade e respeito pelas leis provavelmente nunca antes encontraram ressonância global tão ampla quanto nos últimos dez anos, mesmo que sua concretização muitas vezes deixe a desejar.
E, apesar da retórica anticapitalista decorrente da crise econômica, líderes nacionais em todo o mundo estão aderindo à comercialização de suas economias.
Tirando os EUA, o terceiro no ranking, os quatro países mais populosos do mundo são China, Índia, Indonésia e Brasil, responsáveis por mais de 40% da população do planeta. E esses quatro países têm feito grandes avanços.
A Indonésia apresentou crescimento econômico sólido durante a década inteira, na maior parte do tempo à média anual de 5% ou 6%. Isso seguiu à extrema turbulência de sua década de 1990, marcada por crises desastrosas e pela queda dos padrões de vida.
O Brasil também teve uma década consistentemente boa, com crescimento em alguns momentos superior a 5% ao ano. Fala-se muito que o país teria finalmente deixado suas dificuldades para trás, e, dentro do Brasil, uma preocupação grande é que o real estaria forte demais. É um problema que causaria inveja a muitos outros países.
Também na América do Sul, Colômbia e Peru fizeram avanços enormes, e o Chile está prestes a tornar-se "desenvolvido"; dentro em breve vai ingressar na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
É verdade que ainda há miséria avassaladora na África. Mesmo assim, os padrões gerais de vida subiram em uma ampla gama de países africanos, e o crescimento econômico do continente como um todo foi superior a 5% na maioria dos anos. Muitos serviços essenciais, como água, saneamento, eletricidade e, especialmente, telefonia, estão mais acessíveis.
Uma lição a ser tirada de tudo isso é que o crescimento econômico regular é uma notícia sub-reportada pela imprensa -para nosso detrimento. Nós, como seres humanos, tendemos a focar nossa atenção sobre eventos dramáticos e visíveis, como confrontos com inimigos políticos ou as características de líderes, quer sejam positivas ou negativas.
Convertemos informações sobre política e economia em histórias de mocinhos versus bandidos e identificamos o progresso com o triunfo dos mocinhos. Nesse processo, torna-se fácil ignorar as forças subjacentes que melhoram a vida de maneiras pequenas, culminando em transformações importantes.
Em um ano dado, um ponto percentual a mais de crescimento econômico pode parecer pouco importante. Com o tempo, porém, a diferença entre um crescimento anual de 1% e de 2% determina se você poderá dobrar seu padrão de vida a cada 35 anos ou a cada 70 anos. Com um crescimento anual de 5%, os padrões de vida dobram a cada 14 anos, mais ou menos.
Contudo, apesar das notícias positivas em boa parte do mundo, pode-se questionar se a década como um todo tem sido boa para os americanos, em termos econômicos. Os salários médios subiram pouco ou nada, e os custos da crise e de políticas fiscais irresponsáveis evidenciaram-se mais e mais. Esses fatos justificam uma interpretação pessimista.
Mesmo assim, a maioria dos modelos econômicos sugere que a fonte fundamental de crescimento é dada por novas ideias, que nos possibilitam produzir mais a partir de um conjunto dado de recursos. Na medida em que o resto do mundo fica mais rico, há mais inovação, como argumentou recentemente meu colega Alex Tabarrok, professor de economia na Universidade George Mason.
A questão mais sutil é que China, Índia, Brasil e Indonésia mais ricos vão levar a mais clientes para novas inovações, gerando recompensas para empreendedores bem-sucedidos, não importa onde vivam. Hoje se veem tantos aprimoramentos nos celulares exatamente porque há tantos usuários de celulares em tantos países.
Em outras palavras, se os EUA derem um passo para trás e o resto do mundo der dois passos para frente, nós, americanos, devemos considerar a hipótese de aceitar os resultados, nem que seja apenas tendo o longo prazo em vista.
A maioria de nós se beneficia da riqueza e criatividade de outros países, mesmo que nem sempre possamos nos sentir os maiorais.


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