São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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INTELIGÊNCIA/ROGER COHEN

Esticando a adolescência

Nova York

Outro dia eu estava ouvindo Jonathan Schwartz, apresentador de um programa de rádio americano que possui um estilo hipnótico próprio que envolve o uso elaborado de pausas cheias de significado. A adolescência, observou Schwartz a partir de nada, hoje é vista como terminando por volta dos 32 anos de idade.
"Yeah", disse Schwartz.
A rádio leva em conta a superficialidade da atenção humana, permitindo que o ouvinte focalize sua atenção e então se distraia, sem exigir demais ou de menos dele. Eu me vi arrancado de meus pensamentos dispersos pelo fato de Schwartz ter empurrado a adolescência até a quarta década de vida das pessoas.
A adolescência -fase durante a qual as crianças que passam pela puberdade e descobrem a sexualidade manifestam uma capacidade espantosa de levar seus pais à loucura- geralmente começa aos 11 e termina por volta dos 18 anos. Mas, observando meus próprios filhos, venho me indagando sobre essa definição, e foi por isso que a observação de Schwartz chamou minha atenção.
Desenvolvi algo ao qual dei o nome de "Curva de Inversão Sofisticação/Maturidade". Dei a ela esse nome grandioso na esperança de que ela possa chegar a algum periódico científico, mas a essência da teoria é simples: quanto mais sofisticado um (ou uma) jovem, menos maduro ele ou ela talvez seja.
Os adolescentes de hoje são muito mais sofisticados que os de qualquer geração anterior. Eu não soube o que era sushi até chegar aos 25. Os adolescentes hoje conhecem a culinária global, enfrentam os problemas globais aderindo ao ambientalismo (isto é, quando se lembram de apagar as luzes), entendem o direito humanitário global (pelo menos na medida em que se aplica aos castigos que seus pais podem lhes impor) e têm familiaridade com todas as marcas globais.
Mas boa parte desses conhecimentos é adquirida num vazio social. Como a fonte deles frequentemente é a tela do computador -o lugar onde hoje os adolescentes mantêm contatos sociais-, as habilidades que são aprendidas com a interação humana permanecem atrofiadas.
Se a maturidade envolve a aquisição dolorosa do conhecimento por meio da experiência, ela é adiada pela onipresença do mundo virtual.
O resultado disso é a extensão da adolescência, que, na verdade, está sendo estendida em seus dois extremos: a infância também vem sendo encurtada pela acima citada sofisticação. Pesquisas indicam que as crianças de hoje deixam de acreditar em seres mágicos, como fadas, quatro anos mais cedo do que a geração de seus pais.
O prolongamento da adolescência é lógico, em certo sentido. Para que se apressar a chegar à idade adulta, com as responsabilidades que a acompanham, quando a vida toda está se prolongando?
A década dos 20 anos está sendo convertida, para muitos, de a idade do ingresso no mercado de trabalho em anos de exploração e experimentação, muitas vezes vividos a partir de uma base na casa dos pais, à moda italiana.
Outro dia eu estava conversando com uma jovem no final da casa dos 20 anos que me descrevia o fenômeno do que ela chamou de "homem menino". Os homens meninos são habitantes de Nova York de 25 a 40 anos de idade, mais ou menos, que a moça descreveu como sendo emocionalmente tão atrofiados que receber um telefonema de um deles -em vez de uma mensagem de texto ou um e-mail- até causa espanto. Eles adiam qualquer responsabilidade fora a do trabalho, incluindo relacionamentos e casamento.
É claro que qualquer forma de teorização psicológica é um pouco suspeita. Afinal, temos um presidente dos EUA que cresceu sem pai e foi criado por seus avós. No entanto, ele é um exemplo de serenidade. É especialmente surpreendente quando se considera que, aos 47 anos de idade, Barack Obama só saiu da adolescência há 15 anos.


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