São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Idosos interessados em domar o tão temido reator nuclear

Anciões japoneses dizem correr menos risco de câncer

Por KEN BELSON

TÓQUIO - Sob qualquer aspecto, os que labutam nos reatores nucleares de Fukushima têm um trabalho que os japoneses consideram "kitanai", "kitsui" e "kiken" -sujo, difícil e perigoso.
Aparentemente contrariando a lógica, Yasuteru Yamada, 72, está ávido por participar.
Após ver pela televisão centenas de homens mais jovens tentando controlar os danos na usina Daiichi, esse engenheiro industrial aposentado decidiu recrutar outros especialistas mais velhos para colaborar na tarefa de domar os reatores.
Eles não só têm habilidades necessárias como também, devido à idade avançada, correm menos risco de contrair câncer e outras doenças que se desenvolvem lentamente por causa da exposição a níveis considerados elevados de radiação.
Semanas depois do devastador terremoto e tsunami que atingiram o Japão, ele e Nobuhiro Shiotani, um amigo de infância que também é engenheiro, formaram o Corpo de Veteranos Qualificados.
Desde abril, enviaram milhares de e-mails e cartas. Em seu blog, Yamada convocou pessoas que sejam maiores de 60 anos e tenham "força física e experiência para suportar o ônus desse trabalho na linha de frente".
A resposta foi instantânea. Cerca de 400 pessoas se voluntariaram, e as doações já superaram 4,3 milhões de ienes (US$ 54 mil). A proposta de Yamada acabou abrindo um debate muito mais amplo sobre o papel dos idosos no Japão, o significado do trabalho voluntário, e o fato de que a empresa Tepco, dona dos reatores, terá cada vez mais dificuldades para recrutar gente interessada em trabalhar.
Mais de 3.000 funcionários, muitos deles mal pagos e contratados por meio período, estão na usina acidentada. Nove deles já absorveram radiação acima do limite legalmente tolerado. Dezenas optaram por debandar. Yamada e seu grupo têm sido descritos como patriotas abnegados, esquisitos descerebrados ou pensionistas com o tempo livre em excesso.
Mas Shiotani tem em mente algo considerado muito mais prático. "As usinas nucleares são fruto da imaginação de cientistas e de engenheiros", disse ele. "Eles criaram esta confusão e precisam consertá-la o mais rápido possível."
Yoshimi Hitotsugi, assessor de imprensa da Tepco, disse que a empresa "aprecia altamente" as ofertas de ajuda, mas ainda está decidindo o que os voluntários poderão fazer.
Yamada disse que não espera começar a trabalhar na usina antes do outono boreal, por causa do intenso calor do verão. Ninguém deve fazer nada apressadamente, disse ele.
"Não vamos tomar qualquer atitude imprudente ou sem sentido", disse ele. "Não vamos fazer um trabalho infrutífero."


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