São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Banco Mundial abre seu cofre de dados

Redefinindo uma organização arrogante e inepta

Por STEPHANIE STROM

WASHINGTON - O pequeno avião decolou na manhã quente de Miami e rumou para o sul, em direção ao Haiti, onde as câmeras internas começaram a fotografar.
Por trás dessa missão de reconhecimento, uma instituição financeira: o Banco Mundial, símbolo da globalização e, para muitos, do orgulho dos países ricos.
Mas essa não era uma operação clandestina. As fotos aéreas daquele dia de janeiro de 2010, após o terremoto que arrasou Porto Príncipe, foram carregadas na web, junto com um convite para ajudar especialistas do Banco Mundial a avaliar os danos e planejar como poderiam ajudar o Haiti.
O apelo marcou um afastamento radical do habitual sigilo do Banco Mundial, que, como o Fundo Monetário Internacional, já foi chamado de tudo, de arrogante a inepto. O Banco Mundial quer que o mundo saiba que está se abrindo.
O papel tradicional do Banco Mundial foi financiar projetos específicos para promover o desenvolvimento econômico, enquanto a meta do FMI é salvaguardar o sistema monetário global. Mas muitas pessoas têm antigas dúvidas sobre se as prescrições econômicas que essas duas amplas instituições decretam em Washington -essencialmente liberalizar, privatizar e desregulamentar- fizeram alguma coisa além de promover os interesses de países ricos como os EUA.
Por isso, pode causar surpresa a afirmação do presidente do Banco Mundial, Robert B. Zoellick, de que a moeda mais valiosa da instituição não é seu dinheiro, mas suas informações.
"Estamos tornando as coisas abertas e acessíveis às pessoas", ele diz. "Isso significa um melhor desempenho, um sistema mais aberto, uma atitude diferente das pessoas em relação ao Banco Mundial."
Criado em 1944, o banco inicialmente ajudou a financiar a reconstrução da Europa destroçada pela guerra. Desde então, estendeu trilhões de dólares em empréstimos para diversos projetos, desde instituições como escolas e hospitais a infraestrutura como estradas ou, de forma polêmica, projetos antiecológicos como usinas energéticas movidas a carvão e represas hidrelétricas. Mas os voos no Haiti -que custaram mais ou menos o mesmo que um relatório do banco- foram o arauto de uma revolução silenciosa que hoje toma conta dessa instituição reservada.
Mais de 600 engenheiros em 21 países analisaram os dados coletados no Haiti, e suas conclusões -essencialmente o que reconstruir e onde- foram desde então usadas pelo governo haitiano, por organizações de ajuda, empresas e muitos outros.
O Banco Mundial ainda empresta US$ 170 bilhões por ano. Mas está cada vez mais competindo por influência e poder.
Assim, Zoellick, 57, está distribuindo conhecimento. Há mais de um ano, o banco vem divulgando seus valiosos conjuntos de dados, atualmente dando acesso público a mais de 7.000 que antes só estavam disponíveis para cerca de 140 mil assinantes -principalmente governos e pesquisadores, que pagam para ter acesso a eles.
Esses conjuntos de dados contêm todo tipo de informação sobre o mundo em desenvolvimento, sejam estatísticas econômicas comuns -Produto Interno Bruto e inflação- ou detalhes como quantas mulheres amamentam seus filhos no Peru. Esses dados basicamente definem a realidade econômica de bilhões de pessoas e são usados para elaborar políticas e tomar decisões que têm um enorme impacto em suas vidas. O Banco Mundial promoveu um concurso chamado "Aplicativos para o Desenvolvimento", em parte para lembrar a seus funcionários que as antigas barreiras estão caindo. Desenvolvedores de software apresentaram aplicativos na web com base nos dados do banco. O vencedor, StatPlanet, permite que as pessoas explorem mais de 3.000 indicadores econômicos do Banco Mundial, com mapas e gráficos interativos.
O governo sueco, um grande apoiador de projetos de desenvolvimento, o acompanhou com um protótipo, um site com informações sobre onde ele gasta sua verba de ajuda, bem como o impacto que esses gastos tiveram.
Em breve, o Quênia também abrirá um site com dados que até agora existiam principalmente em livros nas prateleiras de vários ministérios. Os desenvolvedores de software já estão trabalhando com eles -procurando padrões como uma correlação entre os gastos do governo em escolas e as notas dos alunos.
"O Banco Mundial facilitou tudo com sua decisão de abrir os dados", diz Bitange Ndemo, secretário permanente para Informação do Quênia. A divulgação mais ampla desses dados vai envolver mais pessoas no governo ao potencializá-las com conhecimento que podem usar para contestar líderes políticos, ele diz.
A informação é valiosa, e as pessoas encontrarão uma maneira de obtê-la, ele diz. "Essa é uma das coisas, como os telefones celulares e a internet, que não se podem controlar."


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