São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Na Espanha, obras sem utilidade

Ambições de Madri são frustradas por estouro da bolha

Por RAPHAEL MINDER

MADRI - Em março, as autoridades inauguraram um novo aeroporto em Castellón, uma pequena cidade na costa mediterrânea da Espanha. Elas ainda esperam pelo primeiro voo programado. Para justificar a inauguração, Carlos Fabra, chefe do governo provincial de Castellón, afirmou que era uma oportunidade única de transformar um aeroporto em atração turística. Em 26 de junho, ele foi usado no campeonato nacional de ciclismo.
O aeroporto de Castellón, que custou US$ 213 milhões, não é o único sinal de desperdício que salpica a paisagem espanhola. O primeiro aeroporto particular do país, em Ciudad Real (centro), entrou em processo de falência.
Por toda a Espanha, estradas com pedágio quase vazias lutam para gerar lucros. Outros projetos sobrevivem apenas com financiamento público constante, o que foi posto em xeque pela crise da dívida europeia.
A crise e o declínio na construção também deixaram a Espanha com várias obras pela metade ou desertas: museus, estádios, bibliotecas públicas, departamentos oficiais e shopping centers.
Nos últimos 18 meses, a Espanha permitiu que seu deficit orçamentário inchasse na longa bolha imobiliária, que, afinal, estourou juntamente com a crise financeira mundial. O governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero adotou no ano passado medidas de austeridade que reduziram os gastos em infraestrutura. Isso deixou os projetos no limbo, apesar das promessas de políticos de mantê-los vivos.
Nas últimas duas décadas, a Espanha construiu redes de transporte em ritmo maior do que o da maioria dos europeus. Depois de inaugurar sua primeira linha de trem de alta velocidade entre Madri e Sevilha em 1992, a Espanha superou a França em dezembro passado como o país com a maior rede ferroviária de alta velocidade da Europa, com mais de 2.000 quilômetros.
O crescimento do transporte rodoviário e aéreo foi igualmente espetacular. Também levou grandes benefícios econômicos a algumas regiões antes isoladas e pobres. Alguns especialistas sugerem que a abordagem da Espanha ao desenvolvimento durante os anos de boom colocaram a velocidade à frente da avaliação de riscos.
"No Reino Unido, eles tentam deixar tudo de acordo antecipadamente e pensar em todas as contingências, de modo que pode levar anos para fechar um negócio", disse Joseph Santo, diretor de logística e transporte da subsidiária ibérica da firma de consultoria Booz & Company. "Na Espanha, eles fazem o contrário. Fecham o contrato em seis meses e, se acontecer algo depois, veem o que podem fazer." Para ajudar a levantar dinheiro, o governo recentemente intensificou os esforços para privatizar uma parte da infraestrutura, incluindo os dois maiores aeroportos do país.
Os diretores das maiores empresas espanholas de gestão de obras admitiram que os gastos saíram do controle antes da crise. Mas eles também previram que a maioria dos projetos de obras eventualmente dará lucros.
"O problema é que esses projetos são concebidos em um momento em que tudo parece destinado a ter sucesso, e, sem dúvida, havia alguns problemas de planejamento", disse Salvador Alemany, presidente da Abertis, empresa de administração de infraestrutura de Barcelona.


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