São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Para a China, moeda dura (e brilhante)

Vendendo pedras, Laurence Graff vai atrás de dinheiro

Por GERALDINE FABRIKANT

Nessa noite de festa, Gisele Bündchen, querida das câmeras, está coberta de diamantes de Van Cleef & Arpels. A garota da capa Shalom Harlow usa quilates de Harry Winston. E Madonna está enfeitada por Cartier.
Mas nenhuma das joias realmente pertence a elas.
No baile de gala em maio do Instituto de Figurinos de Arte do Museu Metropolitano de Nova York, essas celebridades emprestaram seus adornos.
Mas as joias de Laurence Graff, talvez o maior comerciante de pedras realmente grandes, são raras nessa noite.
"As pessoas que usam joias Graff são suas proprietárias", diz Henri Barguirdjian, diretor da operação de vendas de Graff nos Estados Unidos. "Se você gasta US$ 1 milhão, é muito dinheiro. Quer que uma pequena modelo a use?"
O ramo de varejo da Graff Diamonds, porém, é apenas parte de um império que se estende de showrooms luxuosos em Londres a sombrias minas de diamante no sul da África e oficinas de lapidação em Antuérpia (Bélgica) e outros lugares.
Abaixo do quartel-general da Graff no bairro de Mayfair em Londres, há um labirinto de oficinas. Lá, 170 pessoas fazem as joias que ela vende no mundo.
Hoje, a Graff está penetrando na China, onde o número de bilionários aumenta anualmente -e só perde para os EUA.
"Fazemos mais vendas para dinheiro novo do que para dinheiro antigo", diz Laurence Graff, explicando a atração da China. Durante décadas, ele vendeu muitas pedras importantes, incluindo o diamante Magnificence, de 244 quilates, e o Maharajah, um diamante amarelo de 78 quilates. A Graff Diamonds ganhou manchetes em 2009, quando ladrões roubaram US$ 65 milhões em pedras de sua loja em Mayfair, o maior roubo de joias da história britânica (as pedras não foram recuperadas).
Hoje, as ofertas de Graff incluem um colar de 26 pedras cortadas do Lesotho Promise, um diamante bruto de 603 quilates que comprou por US$ 12,4 milhões da mina Letseng, no país africano de Lesotho. A empresa avalia o colar em mais de US$ 60 milhões. Nos últimos três anos, Graff gastou mais de US$ 100 milhões em quatro diamantes. Ele afirma que pode ganhar mais comprando pedras grandes brutas. "Ganhei dinheiro comprando em bruto, polindo e levando até um certo nível de preço de mercado", diz.
Graff supervisiona uma rede de 32 lojas em todo o mundo e possui 12,14% da Gem Diamonds, uma mineradora de capital aberto. Através de uma participação de 51%, controla a South African Diamond Corporation, que corta e pole diamantes; a Safdico tem 520 empregados em lugares como Johannesburgo, Antuérpia, ilhas Maurício e Botsuana.
Seus clientes incluem Oprah Winfrey, Arnold Schwarzenegger, Denzel Washington, Victoria Beckham e Danielle Steel. Mas as celebridades "não são grandes compradoras", diz Graff, 73. "Elas não têm esse tipo de dinheiro."
O tipo de dinheiro que movimenta cada vez mais esse mercado é chinês. Especialistas concordam que o apetite chinês por diamantes -sobretudo os coloridos- é crescente. Graff tem três lojas no Extremo Oriente e pretende abrir uma na China e outra em Taiwan. É claro que não é o único que atua na China. A concorrência, mesmo para ele, é feroz. A DeBeers tem duas lojas na China e está abrindo outras três neste ano. A Tiffany & Company tem 15 lojas no país e pretende abrir mais.
Sentado em seu escritório elegante no Upper East Side em Manhattan, Graff diz que 2010 foi um bom ano para seu império. Suas empresas, ele diz, geraram vendas mundiais de quase US$ 1 bilhão. Dessas, US$ 437 milhões vieram da Graff Diamonds, o ramo de varejo, que teve um lucro líquido de US$ 64 milhões.
O balanço de suas operações inclui sua participação na Safdico, assim como na Diamond Works, uma empresa de diamantes no atacado. As duas estão sob o guarda-chuva da AE Holdings, baseadas em países conhecidos como paraísos fiscais.
A receita dessas empresas no ano passado totalizou US$ 550 milhões, diz Graff, mas as margens são menores do que no negócio de varejo (ele se recusa a detalhar). Tudo isso foi lucrativo para Graff.
O jornal "Sunday Times", de Londres, estimou a fortuna em US$ 3,2 bilhões em 2010. Ele abandonou a residência britânica há 11 anos e mudou-se para a Suíça, onde o imposto de renda pessoal é muito menor do que no Reino Unido.
Embora Graff tenha feito sua fortuna vendendo diamantes, sua origem foi humilde. Filho de imigrantes judeus do Leste Europeu, ele cresceu no bairro pobre de East End, em Londres.
"Desde criança, eu via uma pequena área chamada Mayfair, onde os judeus compravam diamantes", lembra. As pessoas queriam aplicar dinheiro em algo que parecesse seguro, ele diz.
"E sempre foi assim", continua. "Fossem as famílias reais de diversas partes do mundo, ou hoje, quando as pessoas temem que seus dólares percam o valor, elas querem ativos que aumentem de valor -ativos silenciosos que você pode colocar no bolso, já que amanhã algo pode dar errado."


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