São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Leilões e sites oferecem 'suvenires' de criminosos

Atividade "doente e desprezível" revolta famílias de vítimas

Por THOMAS VINCIGUERRA

A máquina de escrever Smith Corona saiu por US$ 22 mil. O moletom com capuz e os óculos escuros alcançaram US$ 20 mil. Ao todo, as autoridades dos EUA venderam, em um leilão on-line que terminou em 2 de junho, 58 lotes de bens que pertenceram a Theodore Kaczynski, o "Unabomber", terrorista que, durante 17 anos, enviou pacotes-bombas que deixaram três mortos e 23 feridos. A venda, ordenada por um juiz, rendeu US$ 232,2 mil.
Esses itens são o mais recente exemplo do interesse pela "murderabilia" -neologismo em inglês que mistura "murder" (homicídio) e "memorabilia" (suvenir geralmente pertencente a celebridades).
Os dividendos do leilão serão destinados a vítimas do "Unabomber" e suas famílias.
Mas isso não é o mais comum. Quase sempre, os vendedores agem motivados pelo lucro.
"É uma indústria doente e desprezível", disse Andy Kahan, diretor do Departamento de Vítimas de Crimes da Prefeitura de Houston e responsável pela criação do termo "murderabilia".
Adquirir objetos que pertenceram a homicidas condenados não é novidade. Mas agora, graças à internet, o mercado cresce.
Pela internet, é possível encontrar por US$ 1.400 uma camisa usada por Richard Ramirez, conhecido como "Night Stalker". Pinturas feitas pelo "serial killer" John Wayne Gacy, que morreu executado, são populares; um retrato do seu alter ego, o Palhaço Pogo, sai por US$ 19,9 mil.
Por que alguém desejaria isso? "Cada peça conta uma história", escreveu em um e-mail Joe Turner, colecionador britânico que possui uma pintura de Gacy e uma mecha de cabelo de Charles Manson. "Em algum momento, esses assassinos foram pessoas normais, que foram crianças e foram amados pelas pessoas, então, em determinada altura, eles mudaram."
As famílias das vítimas ficam horrorizadas com esse comércio macabro.
"Eu sou totalmente contra", disse Harriett Semander, de Houston. Em 1982, sua filha Elena, 20, foi morta pelo "serial killer" Coral Eugene Watts. Anos mais tarde, ela descobriu que uma carta escrita pelo assassino estava sendo vendida on-line. "Isso glorifica o criminoso", disse ela. "Traz o sofrimento de volta."
Há nos EUA leis que proíbem criminosos de lucrarem com suas histórias ou seus objetos. Mas só oito Estados -Texas, Califórnia, Utah, Nova Jersey, Flórida, Alasca, Michigan e Montana- vetam a venda da "murderabilia".
Eric Gein, morador da Flórida e proprietário do site serialkillersink.com, nega que haja uma diferença entre o leilão do caso Kaczynski, determinado pela Justiça, e vendedores particulares.
"Tudo bem o governo vender essas coisas, mas nós não podemos?", disse Gein (cujo nome é "uma homenagem a Ed Gein", inspirador do personagem Norman Bates em "Psicose"). "Elas vão ser vendidas e vendidas e revendidas."


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