São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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ARTE & ESTILO

Na 'pottermania', fãs são donos da magia

A batalha final entre Harry Potter e lorde Voldemort chegará às telas dos cinemas neste mês, mas o jovem mago já conquistou uma vitória decisiva no lugar onde ela vale muito: nas bilheterias, nas listas de livros mais vendidos e na arena superlotada da cultura popular movida pela fantasia.
Com mais de US$ 6 bilhões em ingressos vendidos em todo o mundo, Harry Potter superou James Bond como herói de franquia cinematográfica de maior rendimento nas bilheterias.
Somados a todos os brinquedos, jogos e até mesmo um parque temático, os livros e os filmes ajudaram a nos mostrar que, na paisagem atual de múltiplas plataformas, um filme não precisa mais representar entretenimento para uma noite. No caso das pessoas que chegaram à maioridade com Harry Potter, esse entretenimento pode durar uma vida inteira.
Os críticos de cinema do "Times" Manohla Dargis e A.O. Scott analisam uma das maiores histórias do entretenimento.
DARGIS: Falando sobre o primeiro filme "Harry Potter", que ainda não tinha sido lançado, Anne Collins Smith, então professora assistente na Universidade Susquehanna, na Pensilvânia, avisou: "Quem assistir ao filme antes de ter lido os livros nunca terá a chance de criar sua própria visão". O filme, "para muitos, tomará o lugar da imaginação".
Milhões de ingressos de cinema e inúmeros sites de fãs, conferências e bandas de rock de magos mais tarde, é indiscutível que, para os amantes de Harry Potter, os filmes não tomaram o lugar de suas próprias imaginações, mas as enriqueceram.
SCOTT: Depois do retumbante sucesso transatlântico de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e de "Harry Potter e a Câmara Secreta", no final dos anos 1990, o lançamento de cada novo livro Potter era como o lançamento de um filme blockbuster, mas mais festivo.
À meia-noite, as livrarias ficavam repletas de leitores ansiosos ostentando varinhas de condão, vestes de mago, óculos redondos e tatuagens temporárias de relâmpagos. A sobreposição entre as versões literárias e cinematográficas do ciclo Potter era incomum e foi influente. O modelo se reflete nos filmes "Crepúsculo" e também nas versões suecas e americanas, estas a chegar em breve, da trilogia "Milênio", de Steig Larsson.
Os filmes de Harry Potter intensificaram o entusiasmo público pelos livros, escritos por J.R. Rowling, o que, por sua vez, aumentaram o interesse pelos filmes.
DARGIS: Antes de os filmes Harry Potter terem começado a quebrar recordes, talvez fosse mais fácil acreditar que a cultura de massas é algo que os consumidores vivenciam em grande medida de cima para baixo, engolindo o que lhes é oferecido. Os fãs de Harry Potter tornaram muito mais difícil "vender" essa ideia.
Eles vêm encontrando maneiras inúmeras e surpreendentes de expressar seu amor e, além disso, desafiar a supremacia da Warner Brothers, o estúdio que é dono dos direitos para o cinema. O estúdio defendeu sua propriedade, mas também tropeçou.
Um obstáculo foi Heatther Lawver, uma "pottermaníaca" que, aos 14 anos de idade, criou "The Daily Prophet", um jornal escolar on-line (hoje inativo) sobre tudo o que dizia respeito a Harry Potter. Alguns anos mais tarde, ela virou notícia quando, em resposta às tentativas da Warner de fechar sites de fãs, alguns deles dirigidos por crianças, ela ajudou a lançar um boicote às mercadorias Potter (o movimento ficou conhecido como PotterWar ou PotterGuerra) -um golpe de gênio em matéria de relações públicas e que ameaçou fazer descarrilar a estratégia de hegemonia global da Warner.
"Fiquei furiosa com aquilo", disse Lawver em 2001, meses antes da estreia do primeiro filme.
Vendo-se na iminência de ser retratada como agressora na véspera do lançamento de sua mais recente potencial mina de ouro, a Warner recuou. O professor Henry Jenkins, da Universidade da Carolina, escreveu que a PotterWar "pode ter sido o primeiro movimento bem-sucedido de fãs para contestar as assertivas de direitos autorais abrangentes dos grandes produtores de mídia".
SCOTT: Se você pedir a críticos de cinema que citem o melhor filme "Harry Potter", a opção de consenso será "O Prisioneiro de Azkaban" (2004). Possivelmente por isso, o filme é o menos apreciado pelos pottermaníacos, cuja devoção aos personagens e à história é mais forte do que o interesse por cinema. Os críticos tendem a avaliar cada filme por seus próprios méritos, mas, desde o começo, o apelo do ciclo Potter está no prazer narrativo que proporciona.
DARGIS: É inspirador quando fãs como Lawver declaram que também eles são "donos" de livros e filmes favoritos, mesmo os que são propriedade de grandes empresas. É possível que, em lugar de escolhas reais, os consumidores hoje tenham uma multidão de opções: todo um universo de mídia Harry Potter, em lugar de apenas alguns livros e filmes muito, muito bons.

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