São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Ritmo do pingue-pongue fascina jazzistas há algumas gerações

Por AIDAN LEVY
Era 1h30 de sexta-feira, e o jazz continuava rolando no Fat Cat, um porão que mistura clube de jazz e salão de bilhar, no West Village nova-iorquino.
Enquanto a banda tocava "Nardis", de Miles Davis, o pianista Aaron Goldberg empunhou sua raquete de pingue-pongue e lançou um saque cruzado no fundo da mesa do adversário.
A cena não é incomum. Antes, depois e às vezes até mesmo durante os shows, muitos jazzistas de Nova York aparecem no Fat Cat para competir por uma variação de um título outrora atribuído a Benny Goodman: o de "Rei do Ping".
Quando não estão tocando no palco, eles fazem um tipo diferente de música com a raquete, o batuque sincopado da bola de pingue-pongue ricocheteando em paredes, corpos e na mesa azul.
"Fiquei agradavelmente surpreso ao descobrir que alguns dos meus amigos jazzistas jogam pingue-pongue", disse Goldberg, que já lançou quatro álbuns como "bandleader" e tocou recentemente com Joshua Redman e Wynton Marsalis. Ele havia ido correndo ao Fat Cat para encontrar uma dúzia de colegas após uma apresentação no Lincoln Center.
Goldberg "é o novo Forrest Gump", afirmou o baterista Ali Jackson, "pianista de jazz à noite, craque do pingue-pongue de dia".
Art Blakey, outro baterista, certa vez gravou um tema chamado "Ping Pong". Mas a afinidade entre as duas formas não tem a ver só com o som. "Quando as coisas estão indo bem [...] você está simplesmente batendo a bola sobre a rede, nem percebe como está fazendo isso, e é praticamente a mesma coisa com a música", disse Goldberg.
A ligação do jazz com o tênis de mesa é antiga. Thelonious Monk, Zoot Sims e Jack DeJohnette em algum momento deram suas raquetadas, e, em 1960, Monk superou Milt Jackson, Max Roach, Abbey Lincoln e outros ao vencer um torneio de pingue-pongue exclusivo para músicos.
Entre os jazzistas nas mesas do Fat Cat naquela madrugada de sexta-feira, ninguém era capaz de destronar Steve Berger, guitarrista e autor da trilha da série de TV "Schoolhouse Rock". Embora ganhe a vida com o jazz, Berger já figurou entre os 20 melhores praticantes de tênis de mesa dos EUA.
O saxofonista Noah Preminger, outro competidor naquela noite, dono de um fenomenal "forehand" e de um "backhand" ainda mais letal, é conhecido por atiçar as chamas da disputa. "Acho que isso melhora o jogo do meu jazz", disse Preminger.
Muitos jogadores acreditam que seus instrumentos lhes conferem uma vantagem realmente competitiva.
"Há definitivamente uma correlação entre o pingue-pongue e a bateria, provavelmente mais do que qualquer outro instrumento", disse Bill Campbell, que costuma jogar na Federação de Tênis de Mesa de Nova York, em Chinatown, ou no Spin, o clube da atriz Susan Sarandon ao lado do Madison Square Park.


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