São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Dinheiro & Negócios

Gigante russa vacila com queda do petróleo

Por ANDREW E. KRAMER

MOSCOU - Um ano atrás, a Gazprom, monopólio estatal do gás russo, pretendia ser a maior empresa do mundo. Incentivada pelos altos preços do petróleo e pelo apoio político do Kremlin, ela já havia chegado ao terceiro lugar, a julgar pela capitalização de mercado, atrás da Exxon Mobil e da General Electric.
Hoje a Gazprom está profundamente endividada e negocia uma ajuda do governo. Seu valor de mercado diminuiu 76% desde o início de 2008. Em vez de ser a maior companhia do mundo, ela caiu para o 35° lugar.
Que a maior empresa estatal de energia da Rússia precise de ajuda logo depois de o petróleo ter atingido uma alta recorde no último verão é revelador. Outrora o símbolo do orgulho e a ameaça de uma Rússia ressurgente, a Gazprom tornou-se um emblema do rápido declínio deste país petrolífero.
Na época de ascensão, a Gazprom e a outra empresa de energia estatal russa, Rosneft, tornaram-se veículos para realizar a renacionalização incremental.
Conforme subiam os preços do petróleo, subiam suas ações. Mas em vez de investir o suficiente em prospecção e exploração, o presidente russo na época, Vladimir Putin, as usou para perseguir sua agenda de recuperar o controle público dos campos de petróleo e grande parte da indústria privada por trás deles.
Em consequência, quando veio a queda, elas entraram na crise de crédito profundamente endividadas e com grande necessidade de capital de investimento.
"Eles estavam tão inebriados com seu sucesso quanto alguns de seus investidores", disse James Fenkner, principal estrategista da Red Star, um fundo hedge dedicado à Rússia, sobre a ambição da Gazprom de ser a maior empresa do mundo.
Após cinco anos de recordes de preços do gás natural, a Gazprom está com dívidas de US$ 49,5 bilhões. Em comparação, toda a dívida do setor privado e público de Índia, China e Brasil com vencimento em 2009 totaliza US$ 56 bilhões, segundo uma estimativa do Commerzbank.
Putin usou a Gazprom para adquirir propriedade privada. Em 2005, ele comprou a companhia de petróleo Sibneft de Roman Abramovich, o magnata e dono do time de futebol Chelsea, de Londres, por US$ 13 bilhões. Em 2006 ele comprou metade do empreendimento de gás e petróleo Sakhalin 2 da Shell por US$ 7 bilhões. E em 2007 gastou mais bilhões para adquirir partes da Yukos, a companhia de petróleo privada que faliu em um caso misto de fraude e evasão fiscal. Um vice-executivo-chefe da Gazprom, Aleksandr Medvedev, previu que a companhia atingiria um valor de mercado de US$ 1 trilhão em 2014. Mas o preço de sua ação caiu 76% desde o início de 2008, e seu valor de mercado hoje é de cerca de US$ 85 bilhões. A Gazprom está longe de falida. A empresa gerou lucros de 360 bilhões de rublos, ou R$ 31 bilhões, com um faturamento de 1,774 trilhão de rublos, ou R$ 155 bilhões, em 2007, o resultado mais recente auditado pela empresa.
Executivos da Gazprom dizem estar revendo os gastos, mas não cortarão os principais desenvolvimentos, incluindo dois oleodutos submarinos destinados a reduzir a dependência da empresa da Ucrânia como país de trânsito para cerca de 80% de suas exportações à Europa.
"Nossos maiores projetos em nosso negócio central continuarão com esforços muito simples para suprir a demanda tanto na Rússia como em nossos mercados de exportação", disse Medvedev.
Mas a receita deverá cair acentuadamente este ano. A Gazprom recebeu em média US$ 420 por mil metros cúbicos de gás vendidos à Europa Ocidental este ano, que deverão cair para US$ 260 a US$ 300 em 2009.
Durante algum tempo, a Gazprom, uma companhia que evoluiu do antigo Ministério do Gás do regime soviético, foi citada por investidores como um modelo para investimentos em energia em uma época de nacionalização dos recursos, quando os governos nas regiões ricas em petróleo estavam isolando as grandes ocidentais.
No entanto, com 436 mil empregados, extensas subsidiárias em tudo, de agricultura a hotelaria, salários mais altos que a média e moradias e balneários no mar Negro financiados pela empresa, os críticos dizem que a Gazprom perpetuou a economia paternalista soviética na era capitalista.
"Eu descrevo a economia russa como água em uma peneira", disse Iulia Latinina, comentarista da rádio Echo de Moscou, sobre o desperdício crônico da indústria russa.
"Todo mundo pensava que a Rússia havia tido êxito e se perguntava: como se mantém água em uma peneira?", disse Latynina. "Quando a entrada de água é maior que a saída, a peneira fica cheia. Todo mundo estava pensando que era um milagre. A peneira está cheia! Mas quando o fornecimento de água diminui a peneira esvazia rapidamente."


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