São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Norte leva más notícias ao México

Por ELISABETH MALKIN

CIDADE DO MÉXICO - Nas últimas três décadas, o México demonstrou em duas ocasiões como a libertinagem e o desgoverno de um país podem provocar uma catástrofe econômica além das suas fronteiras.
Em 1982, o país declarou moratória e desencadeou a crise da dívida latino-americana, o que levou a uma década de crescimento anêmico em toda a região. Em 1994, o peso mexicano desabou e suspendeu os fluxos de capital para mercados emergentes do mundo inteiro, até que o governo de Bill Clinton arrumasse um resgate de US$ 50 bilhões para o país vizinho dos EUA.
Mas nesta recessão, é a libertinagem dos EUA que está derrubando um México convertido à disciplina fiscal.
Como vários países em desenvolvimento, da África do Sul ao Brasil, o México é elogiado pelos economistas por suas políticas econômicas prudentes, que reduziram a dívida e domaram a inflação. Mas isso não poupa nenhum deles das dores da recessão global. Bilhões de dólares já foram retirados dos mercados emergentes por investidores que buscam um refúgio mais seguro, como ainda são considerados os títulos do Tesouro dos EUA.
Quando a economia americana iniciou sua espiral para baixo, as autoridades locais argumentaram que a atual estabilidade macroeconômica protegeria o México.
Agora, quando cada semana chega com novas más notícias dos Estados Unidos, essas previsões parecem otimistas demais. O Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) está ajudando a arrastar o México junto com os EUA, assim como serviu de estímulo quando as coisas estavam melhores ao norte da fronteira.
Quando a economia americana ia bem, sucessivos governos mexicanos contavam com os investimentos estrangeiros e com as exportações para crescer. As exportações respondem por quase um terço do PIB mexicano. No entanto, mais de 80% delas se destinam aos Estados Unidos.
"Diante da contração mais séria em décadas, é difícil imaginar que o México evite a recessão", disse Gray Newman, economista para a América Latina do Morgan Stanley, de Nova York.
O efeito sobre o México está se tornando claro. O desemprego está em seu maior nível em oito anos. O peso caiu 25%, levando a uma alta nos preços das importações e prejudicando consumidores e empresas. As exportações, a produção industrial e o varejo caíram nos últimos meses.
Embora o governo ainda não tenha alterado sua previsão de crescimento de 1,8% para este ano, analistas privados preveem que a economia mexicana ficará estagnada em 2009. No pior cenário, o PIB pode encolher até 1,7%, segundo o BBVA Bancomer, maior banco mexicano.
As más notícias econômicas dominam a mídia. Nas últimas semanas, todas as manhãs o influente radialista Carlos Puig convida empresários para telefonarem descrevendo seus problemas. "A última coisa que nós, mexicanos, perdemos é a esperança", disse a ouvinte Faustina García, administradora de uma pequena empresa de materiais de construção, antes de pedir ajuda do governo.
O governo mexicano, de fato, ainda tem alguma margem de manobra. Neste ano, ele terá seu primeiro déficit orçamentário dos últimos cinco anos, por causa do aumento de gastos para estimular a economia. O Banco Central do país tem quase US$ 85 bilhões em reservas para defender o peso, e espaço para reduzir a taxa de juros. No entanto, se a economia mexicana se contrair, a arrecadação fiscal provavelmente também será afetada.
Nos últimos anos, o México e a América Latina em geral finalmente conseguiram algum sucesso na redução da pobreza. "Houve ganhos substanciais em muitos países latino-americanos entre meados dos anos 1990 e 2006", disse Santiago Levy, vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington, que há 11 anos iniciou um programa no México. "Seria muito triste se isso se perdesse."


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