São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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LENTE

Um ótimo espaço para enganar e ser enganado

O moinho de rumores da internet é uma fera que precisa ser alimentada e que está sempre faminta. E, às vezes, os fatos atrapalham. Mas, afinal, a maioria das pessoas talvez não esteja tão preocupada com os fatos.
"Os rumores são uma grande fonte de conforto para as pessoas", disse ao "New York Times" Barbara Mikkelson, que dirige o site Snopes com seu marido, David.
Nos últimos 14 anos, o Snopes tem derrubado boatos da internet, mitos urbanos, fraudes e outras histórias folclóricas, como a de que o Quênia ergueu um cartaz dando boas-vindas à "terra natal de Barack Obama".
Mas há vários outros por aí.
Uma recente reportagem do "Times" sobre os oito mais novos reis e rainhas da fofoca do ciberespaço incluiu um capítulo sobre as "gafes mais memoráveis" da web.
Entre os erros citados pelo jornal: afirmar que um astro do futebol era o pai de uma criança antes que um teste de paternidade mostrasse que ele não era; publicar o boato de que os corretores de um fundo de investimentos estavam ameaçando liquidar durante a crise financeira de 2008, quando de fato não estavam; publicar um item criticando a mídia noticiosa da corrente dominante por ignorar um casal de um reality show, que afinal era uma peça satírica escrita por um humorista e publicada em outro website.
Para conselhos sobre como não ser vítima desses rumores da internet, é melhor perguntar a um especialista. Isto é, um especialista em notícias falsas.
Baratunde Thurston é editor do The Onion (A Cebola), site especializado em sátiras, exceto que algumas pessoas se queixam de que não conseguem distinguir entre as manchetes verdadeiras da CNN e as paródias do Onion.
"Qualquer coisa que seja boa demais para ser verdade exige ceticismo", disse Thurston ao "Times".
Uma recente videorreportagem do Onion dizia que uma companhia de alimentos congelados havia acrescentado dicas de prevenção ao suicídio às embalagens de suas refeições individuais para micro-ondas. A matéria foi vista por vários grupos de prevenção ao suicídio, que enviaram mensagens pelo Twitter sobre a notícia.
A internet é um ótimo lugar para enganar pessoas, disse Thurston ao "Times", por causa do que ele chamou de "telegrafização" das notícias.
Brooks Jackson, diretor do site político FactCheck.org, acredita que as organizações noticiosas devem tomar cuidado ao vetar reportagens que podem não ser falsas, mas que contêm inverdades.
"A 'notícia' que não é digna de publicar chega às pessoas de qualquer modo hoje em dia, por meio dos falatórios 24 horas na TV a cabo, programas de entrevistas partidários na rádio e por e-mails spam, blogs e websites", ele escreveu em um e-mail para o "Times".
"Do que os leitores precisam hoje, nós achamos, são árbitros honestos que possam ajudar os leitores comuns a separar os fatos da ficção."
Pode ser, mas Mikkelson não tem certeza se isso terá muito impacto. "Não é como: 'Bem, nós temos de ir lá defender a verdade'", ela disse ao "Times". "Quando você opõe a verdade à fofoca, a verdade não tem a menor chance."

TOM BRADY



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