São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Marcas ganham espaço crescente em filmes

Por STEPHANIE CLIFFORD

LOS ANGELES - Jordan Yospe tinha algumas anotações sobre o roteiro de "The 28th Amendment", um thriller sobre um presidente e um agente de segurança rebelde em fuga. Ele achou que algumas das cenas passadas na Casa Branca não estavam suficientemente detalhadas. Além disso, sugeriu, os protagonistas deveriam fazer uma pausa para um lanche durante a fuga.
"Não há nenhuma cena com fast food no filme, mas eles precisam comer", disse. Yospe não era roteirista, não era produtor, não era nem sequer um executivo de estúdio. Era advogado da empresa Mannatt, Phelps & Phillips. Estava em uma reunião com o roteirista e produtor Robert Orci, que coescreveu "Transformers" e "Star Trek", para discutir como incluir nomes de marca em "The 28th Amendment".
No passado, os executivos de estúdios fechavam acordos para incluir produtos em seus filmes. Agora, com a ajuda de profissionais como Yospe, os próprios roteiristas e produtores têm fechado esses acordos, antes mesmo de ser escolhido o elenco de um filme ou de o roteiro estar pronto. É o caso de "The 28th Amendment", da Warner Brothers. Hoje em dia, ter marcas como Cambell's Soup ou Chrysler associadas a um projeto pode ser quase tão importante para conseguir luz verde para o filme quanto contar com Tom Cruise no elenco.
"O custo dos filmes vem subindo, e é isso, realmente, que move quase tudo", explicou Jack Epps, corroteirista de "Top Gun". "Se você quer chamar a atenção de um executivo atualmente, não precisa apenas convencê-lo do valor do roteiro, mas mostrar a ele como criar uma marca."
Para o espectador, a mudança vai significar que a publicidade se tornará parte mais integral do filme. A mudança talvez não seja óbvia inicialmente, mas o diabo vai vestir muito mais Prada.
Fabricantes podem estipular que uma peça de certa grife precisa ser vestida "de maneira positiva" ou que doces ou hambúrgueres devam ser consumidos "equilibradamente". Uma empresa de bebidas alcoólicas pode patrocinar um filme só se o bar onde seu produto é servido for chique, e não decadente.
Quanto mais estreitamente um filme envolve um produto, mais o fabricante paga pelo merchandising -de algumas centenas de milhares de dólares a vários milhões por um filme.
Os roteiristas dizem que isso os ajuda a incluir as marcas no filme de maneira natural, em vez de descobrirem mais tarde que executivos do estúdio incluíram produtos à força, no último minuto. "A pressão para integrar produtos está sempre presente", disse Orci. "A inclusão deve ser feita de maneira realista."
Por isso, os roteiristas estão se encarregando do assunto. No filme "Amor sem Escalas", de 2009, o roteirista e diretor Jason Reitman quis que seu personagem se hospedasse em um hotel real. Sendo ele próprio membro do programa HiltonHonors Diamond VIP, Reitman incentivou o estúdio a fechar um contrato com a rede Hilton, que ofereceu hospedagem gratuita para a equipe técnica, sets de filmagem e promoções do filme em chaves de quartos e nos aparelhos de TV dos apartamentos.
Acordos como esses garantem que filmes de orçamento menor, como "Amor sem Escalas", possam ser feitos. Também significam que, cada vez mais, o público paga para assistir a anúncios produzidos com mais sutileza.
Essa é uma razão pela qual associações de roteiristas venham fazendo objeções à prática e porque alguns roteiristas se preocupam com o aumento do merchandising. "Acho que isso é redação preguiçosa", disse Mary Gallagher, roteirista e instrutora da Escola Tisch de Artes da Universidade de Nova York.
O merchandising não é novidade -em 1896, os irmãos Lumière concordaram em incluir o sabão Sunlight, da Lever Brothers, no filme "Washing Day in Switzerland". Mas vem se tornando cada vez mais agressivo na televisão, onde Yospe incluiu marcas em séries como "Survivor" e "O Aprendiz" quando era advogado da Mark Burnett Productions.
Yospe faz distintos tipos de transações. Uma delas envolve pagamento simples, que geralmente chega a valores de seis a sete algarismos, disse ele. O segundo é um acordo de troca, pelo qual, por exemplo, um hotel pode hospedar o elenco e a equipe técnica de um filme gratuitamente e, em troca, ser mostrado no filme.
No terceiro tipo, as empresas ajudam a fazer a divulgação do filme, como fizeram a Hilton e a American Airlines por "Amor sem Escalas".
"As pessoas estavam me acusando, dizendo que 'O Aprendiz' estragou a TV por incluir tantas marcas", disse Yospe. "Mas, se você não tem recursos, não tem dinheiro e começa a ficar sem possibilidades de ação criativa."


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