São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Reclusos por opção: eles vivem isolados do mundo

Por SARAH MASLIN NIR

Deixar tudo para trás é uma fantasia comum. Mas, para algumas pessoas, fantasiar não basta. Seja qual for a razão, elas se sentem obrigadas a realizar a fantasia, buscando o tipo de solidão que só se encontra nos locais mais remotos.
A compulsão de viver em isolamento pode ser atribuída a diversos fatores, disse a psicóloga Elaine N. Aron, autora de "The Undervalued Self" (O ser desvalorizado) e "The Highly Sensitive Person: How to Thrive When the World Overwhelms You" (A pessoa altamente sensível: como prosperar quando o mundo a domina).
O desejo de extrema solidão pode ter origens mais simples, ela comentou: "Talvez elas queiram ter uma experiência mística. Isso não pode ser considerado doença". Quando se trata de partir sozinhos para locais inóspitos, porém, os homens podem ser mais propensos que as mulheres, disse John T. Cacioppo, diretor do Centro para Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago.
"Em nossa cultura existe esse individualismo mítico que valorizamos", disse Cacioppo, que estuda os efeitos biológicos e cognitivos do isolamento. "Isso é especialmente verdadeiro para os homens -eles são supostamente uma ilha em si mesmos. Eles levam esse mito mais a sério e tentam segui-lo."
Para Roger Lextrait, 63, viver em isolamento parece atraente, depois de uma vida agitada como dono de restaurante em Portland, Oregon.
Lextrait foi o único habitante do atol de Palmyra, em um arquipélago no norte do Pacífico a mais de 1.600 km ao sul do Havaí, de 1992 a 2000. Ele foi parar lá com 40 e poucos anos, depois de cerca de 12 velejando ao redor do mundo, depois de um divórcio e da venda de dois restaurantes. A experiência deveria durar alguns meses, mas Lextrait ficou oito anos.
Parte da atração foi que "o tempo não importava -às vezes eu perdia a conta do ano", ele disse. "Era muito mágico."
Ele decidiu partir quando "foi atacado pela solidão". Voltou do isolamento e achou o mundo um lugar diferente. "Eu não tinha ideia de que o telefone celular existia, fiquei perdido."
Outros preferem fazer uma declaração política. Edward Griffith-Jones, um britânico de 27 anos, passou o último ano vivendo em uma cabana que ele construiu em um parque nacional na Suécia. Foi sua maneira de ser ambientalmente responsável, disse.
"É um momento muito interessante para encontrar outro modo de vida. As pessoas usam muito a palavra 'sustentável', especialmente quando fazem negócios, e ela não significa nada."
Em suas raras viagens à cidade, ele procurava alimentos não estragados nas latas de lixo. "Vivemos em um mundo onde tudo é muito especializado. Hoje as pessoas não sabem fazer nada, não sabem sobreviver", disse, falando de um telefone celular na floresta. "Eu não sou completamente autossuficiente, mas estou aprendendo."
Recentemente, porém, Griffith-Jones deixou a floresta, após decidir que o estilo de vida não era tão sustentável quanto ele esperava e, principalmente, porque "não havia mulheres dispostas a morar lá".
David Glasheen, 66, comparou sua experiência de viver sozinho a "ir à Lua". "Tudo o que você já aprendeu não significa nada até você chegar a um lugar como este", disse Glasheen, que vive na ilha Restoration, diante do litoral norte da Austrália, com seu cachorro. Ele está lá desde 1996.
Um empresário, ele havia sofrido uma série de prejuízos financeiros e o divórcio quando uma namorada sugeriu que escapassem para uma ilha no início dos anos 1990. (Ela não ficou.)
"Eu só queria a ideia de uma vida menos estressante", disse. Vários anos atrás, Glasheen tornou-se uma espécie de sensação na mídia depois que seu perfil, que ele coloara em um site australiano (para buscar uma namorada), foi publicado por vários jornais do mundo.
Ele disse que recebeu mensagens de centenas de mulheres, mas só algumas atraíram seu interesse: "Tem muitas malucas por aí".


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