São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Casal mistura tradição coreana com estilo italiano

Por GISELA WILLIAMS

SEUL, Coreia do Sul - Vista de fora, a casa de Simone Carena e Jihye Shin parece uma residência tradicional coreana, ou "hanok", com sua porta de madeira entalhada e seu telhado parecido com um pagode budista. Mas a motocicleta Ducati vermelha estacionada em frente sugere que há algo inesperado do lado de dentro: um espaço moderno, tipo loft, num atraente tom verde-bambu.
"Queríamos uma cor forte e natural, que trouxesse o exterior para dentro da casa", disse Carena, 41, sócio fundador do escritório de arquitetura Motoelastico, com filiais em Seul e Turim, na Itália. "Semelhante ao contraste que você obtém das folhas de bambu contra um fundo de telhas pretas."
O casal adquiriu o imóvel, no bairro de Samcheong-dong, em 2007, por 280,5 milhões de wons sul-coreanos (cerca de R$ 410 mil) na época. "Todo o mundo que nós conhecíamos aqui achava que éramos loucos de comprarmos um 'hanok'", disse Carena, que se mudou da Itália para Seul em 2001, para lecionar na Escola Internacional de Design para Estudos Avançados, hoje parte da Universidade Hongik.
No começo, essa foi a opinião também da mulher dele, uma estilista de moda criada num "hanok" próximo, e que se lembrava de como era viver em uma casa sem confortos modernos. "Até meus pais aconselharam contra isso", disse Shin, 31. "Mas acreditei em Simone."
Acabou sendo a decisão correta. Nos últimos anos, esse se tornou um bairro da moda, e o valor do imóvel triplicou, segundo os cálculos de Carena. Como a casa estava em "péssima condição", contou ele, o casal decidiu derrubá-la e construir uma nova, em vez de reformar, reutilizando as telhas originais e as pedras da fundação.
Carena e seu sócio, Marco Bruno, projetaram uma estrutura em forma de U, com a abertura -e o pátio- voltada para oeste, com vista para os telhados vizinhos, na direção do pôr do sol. "E da Itália", disse ele.
A obra custou cerca de US$ 150 mil e foi uma batalha constante, disse o arquiteto, porque é difícil encontrar construtores tradicionais capacitados -eles trabalham quase exclusivamente em grandes empreitadas, como museus e palácios, para organizações que podem pagar seus elevados honorários-, e a maioria deles tende a ver com maus olhos soluções não convencionais de design.
Logo que Carena e Shin se mudaram para a casa de dois andares e 102 m2, em abril, descobriram vazamentos em torno das janelas sobre os armários da cozinha. Então, Carena encontrou uma solução inovadora: um "pequeno microssistema", como ele diz, que usa calhas e funis de plástico de forma a direcionar a água da chuva para plantas carnívoras e para um jardim miniaturizado.
A casa está cheia de depósitos escondidos e de ideias inteligentes. Uma janela recortada no piso do pátio e enquadrada com espelhos joga luz no porão. Um terracinho montado sobre a cozinha oferece ao casal e ao filho Felice, 1, um lugar para apreciar a vista do monte Inwang, atração turística de Seul, durante os meses do verão.
"Esta casa é um quebra-cabeças de vistas abertas e de depósitos escondidos", disse Carena. Claro, tantas vistas abertas facilitam a vida de quem quer espiar lá dentro.
"Um dos nossos vizinhos nos advertiu um dia que nos viu dançando na cozinha", disse Carena. "Não ligamos para isso, mas construí uma pequena veneziana por causa dele."


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