São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Ascensão chinesa expõe falhas do modelo japonês

Sucesso da China é "choque psicológico" para o Japão

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - Há anos o Japão se prepara para o dia em que será economicamente ofuscado pela China. Mas, por causa da crise global, da dificuldade japonesa em gerir sua economia e da ascensão da China -em vívida exibição recentemente nas celebrações dos 60 anos da República Popular em Pequim-, esse dia pode chegar mais rápido do que se esperava.
Embora as recentes oscilações cambiais possam adiar essa constatação, muitos economistas esperam que o Japão ceda sua posição como segunda maior economia do mundo em algum momento do ano que vem, ou seja, até cinco anos antes do que se previa anteriormente. O que está em jogo é mais do que o direito regional a se gabar; será o fim de uma ordem econômica global que prevaleceu durante 40 anos.
A ascensão da China pode acelerar o declínio econômico do Japão ao capturar mercados de exportação do país, num momento em que a esmagadora dívida nacional japonesa aumenta, enquanto sua população envelhece e fica cada vez menos produtiva.
"Está além da minha imaginação até onde o Japão irá cair na economia mundial em 10 ou 20 anos", disse Hideo Kumano, economista do Instituto de Pesquisas Dai-Ichi Life, em Tóquio.
Há não muito tempo, o Japão era "o milagre econômico", a potência em ascensão, a caminho de rivalizar com os EUA. Agora, muitos ali se perguntam se o Japão estará fadado a ser a próxima Suíça: rica e confortável, mas com pouco impacto global, em grande parte ignorada pelo resto do mundo. Mas até mesmo essa esperança pode estar escapando a esse país de 127 milhões de habitantes.
A renda per capita do Japão, que superou a dos EUA no final da década de 1980, estacionou em US$ 34,3 mil em 2007; ela agora está um quarto abaixo dos níveis norte-americanos e é a 19a do mundo. Tanto a desigualdade quanto a pobreza estão aumentando.
O desemprego está em um nível recorde, 5,7%, enquanto os preços e a renda estão caindo rapidamente. A economia japonesa encolheu a uma taxa anualizada de 11,7% nos três primeiros meses do ano, antes de se recuperar para uma modesta taxa de crescimento anual de 2,3% no segundo trimestre.
A economia chinesa deve crescer 8% em 2009, enquanto economistas preveem que a japonesa encolha 3% no ano, antes de voltar ao anêmico crescimento de cerca de 1% no ano que vem.
A China cresceu cerca de 10% ao ano durante a maior parte das duas últimas décadas. Nesse período, o Japão se estagnou, já que enormes projetos de obras públicas protegeram setores moribundos, em vez de estimular novos.
Os problemas japoneses foram agravados por sua pior recessão do pós-guerra. Enquanto a demanda evaporava em importantes mercados externos, a produção e as exportações despencavam até 40% neste ano. A China também ultrapassou o Japão como detentora do maior superavit comercial e das maiores reservas de divisas estrangeiras.
Alguns economistas dizem que o Japão não precisa temer seu vizinho. A China se tornou o maior parceiro comercial do Japão em 2006, e as exportações para a China estiveram entre as primeiras a demonstrar sinais de recuperação. Em meio à estagnação do mercado automobilístico global, fabricantes como Toyota e Nissan fazem novas investidas no mercado chinês.
"O Japão é vizinho de um mercado em rápido crescimento", disse Nobuo Iizuka, economista-chefe do Centro para a Pesquisa Econômica do Japão. "Essa é uma grande vantagem, não uma ameaça. A questão é se o Japão pode construir algo em cima dessa vantagem."
Ainda assim, disse C. H. Kwan, pesquisador sênior do Instituto Nomura de Pesquisas do Mercado de Capitais, de Tóquio, "esse é um grande choque psicológico para o Japão". Kwan, nascido em Hong Kong, migrou para Tóquio depois de ficar admirado com o livro "O Japão como Primeira Potência" (1979), de Ezra F. Vogel.
Agora, ele prepara o seu próprio livro: "A China como Primeira Potência". Com base nas atuais tendências cambiais e de crescimento, Kwan prevê que a economia chinesa irá superar a norte-americana em 2039.
"Não estamos mais falando na China fabricando um monte de sapatos", disse ele. "A China está prestes a deixar todo o mundo bem para trás."


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