São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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ENSAIO

PETER BAKER

Uma questão de confiança


Obama conseguirá restaurar a sensação de empreendedorismo e coragem nos EUA?


Washington
Confança é o nome do jogo para Barack Obama, presidente que tenta calibrar sua mensagem para se adequar ao momento, buscando uma maneira de inspirar um país temeroso da recessão e transmitir a esperança de que tempos melhores virão. É um equilíbrio delicado de se alcançar. Se ele parecer pessimista demais, poderá deprimir ainda mais um povo desesperado por qualquer sinal de progresso. Se soar otimista demais, correrá o risco de parecer que está tentando enganar a nação.
"Você não quer ignorar os problemas e parecer que não está em contato com os desafios que eles estão enfrentando", disse Rahm Emanuel, chefe de gabinete da Casa Branca. "Por outro lado, você tem de passar a sensação de que há uma luz no horizonte, visível, para a qual você está apontando."
E os americanos ficaram mais otimistas sobre a economia e a condução dos EUA desde a posse de Obama, o que sugere que ele goza de certo sucesso em sua tarefa crítica de reconstruir a confiança americana, segundo uma pesquisa New York Times/CBS News divulgada no dia 7.
A tarefa de Obama é igualmente crítica para muitos outros países cujas economias dependem de um consumidor americano confiante. Por isso, quando ele voou para Londres e se reuniu com outros líderes para tentar reverter a economia mundial, prometeu mais uma vez restaurar "a confiança nos mercados financeiros".
Na França, disse em um encontro na prefeitura que estava "confiante de que podemos enfrentar qualquer desafio desde que estejamos unidos". Para confirmar, repetiu a frase duas vezes em seus comentários iniciais. E caso os americanos a tivessem perdido, Obama gravou uma mensagem declarando que está "confiante de que vamos superar esse desafio".
Mas Obama é o líder de uma nação com a confiança desgastada em todo tipo de instituição, dos bancos e da indústria de automóveis ao governo e à mídia noticiosa. O próprio lugar dos EUA no mundo parece em dúvida para alguns, enquanto China e Rússia tentam criar uma nova moeda internacional para substituir o dólar e outros contestam a dominação econômica, militar e cultural do país.
Na verdade, esta não é a primeira vez que um presidente enfrenta tal desafio. Franklin D. Roosevelt possivelmente reverteu o clima de um país que apreciava seu estilo entusiasmado, as conversas tranquilizadoras ao pé da lareira e a certeza de que a única coisa a temer era "o próprio medo", apesar de a Grande Depressão ter causado estragos por anos. Ronald Reagan assumiu um país, depois do Vietnã e de Watergate, que sofria o que Jimmy Carter chamou de "crise de confiança" e imitou Roosevelt com uma série de pronunciamentos pelo rádio e discursos expressando a fé inabalável no espírito americano.
Não importa quanto crédito eles mereçam, Roosevelt e Reagan, ou suas lendas, levaram sucessivos presidentes a cuidar do tom, sabendo que serão julgados por ele. George W. Bush projetou uma segurança constante na sequência dos atentados de 11 de Setembro.
Mas suas avaliações sempre entusiásticas da guerra no Iraque, mais tarde, o fizeram parecer desconectado. "As pessoas pararam de acreditar nele depois de algum tempo", disse Alan Brinkley, reitor da Universidade Columbia, em Nova York, e historiador presidencial. "Já Obama é descontraído e calmo, e no entanto pode ser muito carismático. Acho que a sensação de calma e razão é o que faz as pessoas confiarem nele. Não tem o entusiasmo efervescente que Roosevelt e Reagan tinham, mas é um tipo de confiança diferente."
O equilíbrio escapou a Obama algumas vezes desde sua eleição. Por semanas ele pareceu um arauto da catástrofe, advertendo sobre uma recessão que poderia durar uma década. Em certa altura o ex-presidente Bill Clinton, o homem de Hope [Esperança], Arkansas, pediu que Obama fosse franco com a população sobre a crise, mas enfatizasse sua fé no futuro. "Eu gostaria que ele dissesse que está esperançoso e convencido de que vamos superar isto", disse Clinton na época.
Bush resistiu ao usar a palavra "recessão" durante vários meses, preferindo "declínio" e "desaceleração", raciocinando que um presidente que usasse a palavra prematuramente poderia transformá-la em uma conclusão antecipada.
No entanto, alguns especialistas negam a importância da confiança em uma época em que tantos pilares do sistema estão partidos. "Isso não vai consertar a situação", disse Peter Morici, economista da Universidade de Maryland. "A economia está ruim e as pessoas perderam a confiança, e não o contrário. O fato de as pessoas recuperarem a confiança não vai restaurar a solvência dos bancos ou a demanda do consumidor."


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