São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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ENSAIO

STEVE LOHR

Como a crise muda o modelo corporativo


Uma nova ênfase na eficiência e na responsabilidade


A administração de empresas não é uma ciência como a física, com leis imutáveis e teorias verificáveis. A administração é, no máximo, uma resposta inteligente às forças externas, muitas vezes perturbadoras.
E os tempos de severa restrição econômica, segundo especialistas, podem servir para acelerar tendências em curso.
A Grande Depressão, eles dizem, foi um desses catalisadores de forças que já estavam em ação. O principal resultado foi o surgimento da empresa moderna multifacetada, como General Electric, DuPont e GM, possibilitado pelas tecnologias do transporte e da comunicação.
Pode estar em curso uma versão moderna desse tipo de mudança, amparada pela tecnologia na prática administrativa e na organização corporativa, segundo John Hagel III, codiretor do Centro Deloitte para Inovação de Ponta, filial da empresa de consultoria.
A recessão acentuada, segundo Hagel, obrigará as empresas a ir além do simples corte de custos e a examinar atentamente seus negócios. A crise atual, diz, abre a porta para "um desempacotamento da corporação" para melhorar eficiência e rentabilidade. Ele nota que tendência já é exemplificada por empresas especializadas e de terceirização que se concentram em determinados campos de infraestrutura.
Para Hagel, trata-se de uma repetição, na era da internet, da transformação corporativa das décadas de 1930 e 40, "desta vez, com infraestruturas digitais que permitem que as empresas organizem e administrem suas atividades de novas maneiras".
Tempos conturbados também geram mudanças em atitudes e políticas sociais, que levam a novas práticas administrativas. Os sindicatos, por exemplo, ganharam proeminência nos EUA durante a Depressão e levaram às grandes companhias uma dose necessária de estabilidade industrial, enquanto as primeiras guerras ideológicas entre mão de obra e capital recuavam.
Seu poder foi suplantado por "uma nova subespécie de homem econômico -o gerente assalariado", escreveu Alfred D. Chandler Jr. no livro "The Visible Hand: The Managerial Revolution in American Business" (A mão visível: A revolução gerencial nas empresas americanas, ed. Harvard, 1977). O papel da administração era equilibrar os interesses de um grupo diversificado de interessados, incluindo trabalhadores, governo e acionistas.
Esse modelo se manteve até a década de 1980, quando a estagnação econômica e dos lucros corporativos deu um enfoque mais estreito aos retornos do mercado de ações como medida principal do desempenho administrativo.
Hoje o pêndulo está voltando a um modelo em que as empresas serão consideradas mais como organizações sociais, cujas obrigações vão muito além de Wall Street, segundo Rakesh Khurana, professor da escola de economia em Harvard. "A narrativa da América corporativa mudou", observou Khurana. "O governo não é visto em oposição à firma, mas como sócio."
Essas mudanças são a norma histórica, ao que parece. "Se há uma ideologia da administração, é o pragmatismo", diz Khurana.


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