São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Nos arrozais do Japão, clima é de pessimismo


A agricultura japonesa "não tem juventude nem futuro", diz um agricultor


Por MARTIN FACKLER

SHONAI, Japão - Segundo muitos agricultores e especialistas, a zona rural do Japão está rapidamente se aproximando de um beco sem saída, resultado do êxodo da população rural, da liberalização comercial e do enfraquecimento dos cofres do governo. Eles falam da pior crise rural desde a Segunda Guerra Mundial.
Em Shonai, o preço da terra arável teve queda de até 70% nos últimos 15 anos, e o número de agricultores caiu pela metade desde 1990. Em todo o Japão, a produção de arroz declinou 20% em dez anos, causando alarme num país que hoje importa 61% dos alimentos que consome, segundo estatísticas do governo. O envelhecimento é visto como o maior problema nas áreas rurais. O Ministério da Agricultura estima que 70% dos 3 milhões de agricultores japoneses têm 60 anos ou mais.
A crise global agravou essa situação, mas a raiz do problema está no sistema rural japonês de propriedades familiares minúsculas e ineficientes, que data do final da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ao mesmo tempo em que muitos agricultores e especialistas concordam que esse sistema não está funcionando, sua transformação enfrenta empecilhos por parte de vários interesses e o medo de perturbar costumes tradicionais.
Os eleitores rurais formam a base de uma pirâmide política cujo ápice é ocupado pelo Partido Liberal Democrático (PLD), que governa o Japão há mais de meio século. Nas eleições gerais, que terão que ser convocadas até o início de setembro, a previsão é que o partido enfrente uma disputa acirrada com o Partido Democrático do Japão.
Takashi Kudo, dono de uma construtora em Shonai, disse que ainda é partidário fiel dos legisladores do PLD. "A reação à situação vem sendo de desilusão política, não de revolta", disse Kudo, 45.
Outros pensam que o PLD não avançou o suficiente nas reformas e se queixam de que o partido e os grupos locais que o apoiam vêm criando obstáculos às melhoras sugeridas por agricultores locais.
Um dos inovadores é Kazushi Saito, 52, plantador de arroz e criador de porcos que seis anos atrás enfrentou uma das mais poderosas instituições rurais japonesas, a cooperativa agrícola nacional, tentando estabelecer sua própria cooperativa, menor e alternativa. Mas, quando quis registrá-la -o que é autorizado pela lei-, as autoridades agrícolas da região se recusaram a aceitar a documentação. "Os interesses poderosos estão levando a agricultura japonesa a um beco sem saída", disse Saito.
Hitoshi Suzuki, 57, que administra uma fazenda familiar em Shonai, quadruplicou para 16 hectares a área que cultiva, a maior parte dela arrendada de agricultores aposentados. Mas os preços inflacionados da terra, as restrições à produção de arroz e o alto custo da agricultura japonesa fortemente mecanizada levaram sua fazenda a perder mais dinheiro que as propriedades vizinhas, menores, disse.
"Se a agricultura voltasse a ser saudável, poderia ressuscitar as economias locais", disse o professor de agricultura Masayoshi Honma, da Universidade de Tóquio. "Sem reformas, ela vai declinar até morrer."


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