São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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ARTE E ESTILO

Artistas estrangeiros sacodem Havana

Por IAN URBINA

HAVANA - Delia Brown estava parada ao lado de uma de suas obras da série "Guerrilla Villa", um quadro a óleo dela e suas amigas posando contra o fundo decadente de um caro resort em St. Bart's. Vestindo sutiãs de biquínis, calças de camuflagem e bonés de Che Guevara, as mulheres parecem sérias, bebendo Havana Club Rum e comendo Skittles.
A pintura, parte do projeto "Guerrilla Lounging", de Brown, é ao mesmo tempo um abraço e uma crítica à "classe do lazer". E sua ironia seca não poderia ser mais adequada para a exposição "Chelsea Visita Havana", a maior exposição feita por uma galeria de arte americana em Cuba desde a revolução de 1959 e parte da 10a Bienal de Havana.
A bienal, de 27 de março a 30 de abril, atraiu obras de mais de 300 artistas de 54 países e deu às ruas de Havana um ar quase carnavalesco.
Para a mostra, cerca de uma dúzia de artistas americanos e dezenas de críticos e compradores foram à ilha para se divertir, mostrar suas obras e, talvez, oferecer solidariedade aos artistas cubanos, muitos dos quais não obtiveram vistos para expor seu trabalho nos EUA durante os oito anos do governo de George W. Bush.
"Esperamos que este seja um primeiro passo para a normalização das relações EUA-Cuba", disse o organizador da exposição, Alberto Magnan, que deixou Cuba quando tinha cinco anos e é dono da Magnan Projects Gallery no bairro de Chelsea, em Manhattan.
O tema da bienal é "Integração e Resistência na Era Global", o que significa que muitos artistas abordam pelo menos de passagem questões de globalização, imigração e economia.
A instalação de Annalee Davis, "Just Beyond My Imagination" (Simplesmente além da minha imaginação), é um campo de golfe falso com buracos de areia em forma de ilhas do Caribe. Davis é de Barbados, e sua obra é uma visão maliciosa de como a região é usada como área de diversão pelos países mais ricos.
A globalização tem relevância especial para os artistas da ilha. Antes que o governo Bush parasse de conceder vistos, muitos dos principais artistas cubanos passavam temporadas de meses nos EUA ou na Europa. Hoje, com um novo governo em Washington, muitos no mundo artístico dizem acreditar que haverá um afrouxamento das restrições e que o mercado de arte cubano será beneficiado.
"Cuba sabe sobre a luta pela independência de potências e forças maiores", disse Alexis Leyva Machado, conhecido como Kcho, um dos artistas mais famosos da ilha. Para sua contribuição, Kcho instalou um carrossel com representações esculpidas da história cubana, incluindo modelos em madeira do navio negreiro americano Maine e o Granma, barco usado para transportar Fidel Castro e seus combatentes revolucionários para Cuba em 1956.
Kcho também foi encarregado de levar dezenas de jovens artistas de todas as regiões cubanas para mostrar seu trabalho na capital. "Parte da integração, para nós, significava garantir que ninguém ficasse de fora, especialmente na ilha", disse.
Com verbas da Fundação Amistad, organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos que promove intercâmbio e compreensão entre americanos e cubanos, a exposição de Chelsea inclui obras de 30 artistas de mais de duas dúzias de galerias. Uma instalação ao ar livre do artista cubano Roberto Fabelo, chamada "Sobreviventes", consiste em mais de dez esculturas gigantescas de baratas com rostos humanos subindo pela parede do Palacio de Belas Artes.
O artista Duke Riley, que chegou a Havana no início de março para organizar um desfile do Dia de São Patrício, quis salientar o papel dos irlandeses na história cubana, ele disse, mas também ver se era mais difícil conseguir autorização para uma parada aqui do que nos EUA.
Ele levou uma semana para convencer as autoridade cubanas a deixá-lo fazer o evento. No dia do desfile, ele colocou o travesti mais famoso da ilha, Farah, na frente da marcha para ver se as autoridades o barrariam. Isso não aconteceu, e alguns guardas de segurança mobilizados para o evento chegaram a se unir à dança quando as gaitas de foles tocaram. "Isto serve para mostrar que você pode se divertir um pouco enquanto tenta melhorar as coisas."


ON-LINE: GALERIA DE FOTOS
Veja algumas imagens da exposição "Chelsea Visita Havana" no endereço:
nytimes.com/design



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