São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Mudança climática afeta pinguins no Atlântico Sul

Por CLAUDIA DREIFUS

P. Dee Boersma, 62, bióloga conservacionista da Universidade de Washington, dedicou mais de 25 anos de sua vida aos pinguins. Como diretora do Projeto Pinguim da Wildlife Conservation Society (WCS, ou Sociedade de Conservação da Vida Selvagem), ela estuda o comportamento de espécies em uma praia do sul da Argentina.

Pergunta. Como o projeto começou?
Boersma.
No começo da década de 1980, uma empresa japonesa foi ao governo argentino e disse: "Gostaríamos de uma concessão para colher seus pinguins e transformá-los em óleo, proteína e luvas". Houve indignação do público. Isso foi durante uma ditadura militar, quando dissidentes eram jogados no oceano. E mesmo assim as pessoas levantaram a voz.
Então, o regime militar fez o que qualquer governo diante de uma polêmica deveria fazer -um estudo. Não muito tempo depois, a WCS entrou em acordo com o Departamento Argentino de Turismo e com a Província de Chubut para estabelecer um projeto de pesquisa em Punta Tombo, onde havia a maior colônia mundial de pinguins-de-magalhães. Com o tempo, descobrimos que os pinguins vivem bastante, 30 anos ou mais. Então acabei indo à Argentina todos os anos desde 1982.

Pergunta. O que sua pesquisa envolve?
Boersma.
Sou uma espécie de recenseadora dos 200 mil casais de pinguins de Punta Tombo. Localizo quem está em casa, quem acasala, aonde os pinguins vão para as refeições, sua saúde, seu comportamento.
Por meio da etiquetagem conseguimos demonstrar que na última década as aves estão nadando cerca de 40 km a mais em busca de alimento. Elas estão com problemas para encontrar peixe suficiente para comer. Isso custa tempo e energia para um pinguim, enquanto o parceiro está sentando sobre o ovo, morrendo de fome. E quando voltam ao ninho para render o parceiro, chegam em condições físicas piores. E aí o parceiro também tem de ir mais longe para achar comida.
Esses pinguins agora botam ovos em média três dias mais tarde do que há dez anos. Isso significa que os filhotes podem partir para o mar em momentos mais inoportunos. Muitos não sobreviverão para voltar e procriar. A colônia de Punta Tombo declinou 22% desde 1987. Das 17 espécies de pinguins, 12 estão sofrendo rápidas reduções de seus números.

Pergunta. Por que essas mudanças ocorrem entre os pinguins-de-magalhães?
Boersma.
Mudanças na disponibilidade e na abundância de presas. E achamos que isso se deve tanto à mudança climática quanto à exploração das fontes alimentares dos pinguins pela pesca comercial. Também há a poluição por petróleo no Atlântico Sul e os dejetos dos navios. Por um tempo na década de 1980, 80% dos pinguins mortos encontrados ao longo da costa estavam cobertos de óleo.
Em 1994, conseguimos que as autoridades de Chubut afastassem as rotas dos petroleiros para mais longe da costa. Isso ajudou. Mas, ao fazer essas migrações mais longas em busca de comida, as aves às vezes saem das áreas protegidas de Chubut. alguns foram localizados no Brasil. Nas águas de Brasil, Uruguai e norte argentino, as leis contra o derramamento de óleo são mais brandas, e os pinguins encontram problemas.

Pergunta. Quais são as implicações políticas da sua pesquisa?
Boersma.
Estamos vendo que as áreas de conservação que estabelecemos para proteger os pinguins não vão funcionar. Acho que teremos de fazer um zoneamento oceânico e tentar gerir as pessoas.
Também acho que, [usando] nossas informações sobre os padrões migratórios dos pinguins, devemos tentar antecipar o próximo lugar aonde eles podem se mover. Atualmente, estão num terreno público de Punta Tombo, mas, ao buscar novas fontes alimentares, as aves podem acabar colonizando praias privadas. E aí? Os pinguins estão nos mostrando que a mudança climática já aconteceu. As aves estão tentando se adaptar. Mas a evolução não é suficientemente rápida para lhes permitir fazer isso no longo prazo.


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