São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

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ANÁLISE DO NOTICIÁRIO

Paquistão corteja novos parceiros

Por MARK MAZZETTI
WASHINGTON - Com o casamento entre os EUA e o Paquistão em dificuldades, Islamabad deu sinais de que está pronta para cortejar outros parceiros. Dias depois da operação militar americana no Paquistão que matou Osama bin Laden, as autoridades viajaram para Pequim e pediram a seus "irmãos chineses" para operar um porto estratégico no mar da Arábia. Eles também disseram que os dois países planejam oleodutos, estradas de ferro e bases militares para a Marinha chinesa no Paquistão.
As autoridades paquistanesas já haviam aconselhado seus vizinhos do Afeganistão -onde os americanos aplicaram bilhões de dólares e perderam mais de 1.500 vidas desde 2001- que, para eles, seria melhor fazer apostas em uma China ascendente, em vez dos Estados Unidos em declínio.
Com Bin Laden morto, e a Casa Branca determinada a retirar as tropas do Afeganistão, alguns em Washington defendem a tese de que os laços que ligam EUA e Paquistão não são mais tão fortes.
Há uma nova dinâmica em ação hoje. "Conforme começarmos a contar menos com o Paquistão para colocar suprimentos no Afeganistão, o eixo entre os EUA e a Índia continuará se reforçando", disse Bruce O. Riedel, um ex-diretor da CIA que atua no Instituto Brookings. Se isso ocorrer, seria natural que Islamabad tentasse se aproximar ainda mais da China e da Arábia Saudita, dois antigos aliados e parceiros comerciais. Enquanto houver guerra, os EUA vão contar com as rotas para o Paquistão para levar suprimentos aos militares e manter a pressão contra os militantes nas áreas tribais do Paquistão. E o Paquistão ainda precisa dos bilhões que vêm anualmente de Washington.
Quando a guerra terminar, porém, o relacionamento poderá mudar. Alguns analistas preveem um novo Grande Jogo de predomínio na região, com interesses como os bilhões de dólares em riquezas minerais no Afeganistão, acesso a rotas marítimas vitais e a necessidade de monitorar as antigas tensões entre a Índia e o Paquistão.
Nos dez anos que passaram desde 11 de setembro de 2001, os governos Bush e Obama fizeram dezenas de visitas oficiais a Islamabad para implorar, aconselhar ou exigir que o Paquistão cortasse os laços com grupos militantes. A reação paquistanesa parece ter sido a determinação a seguir um rumo independente, em parte sugerindo que adotaria outro parceiro, como a China. Uma questão, porém, é se a China vê essa parceria do mesmo modo.
Daniel Markey, do Conselho para Relações Internacionais, um centro de pesquisas em Washington, disse que viajar para Pequim deixou claro para ele que os chineses não retribuíram os sentimentos paquistaneses. Ele disse que os chineses "não querem ser usados como um trunfo contra os EUA".
Mas poderiam cooperar na criação de oportunidades para estabilizar a região. Em vez dos EUA, da China e de outros com objetivos cruzados por lá, as potências regionais poderiam se unir não apenas para tentar controlar a dinâmica incendiária do Paquistão, como também o problema espinhoso de terminar a guerra no Afeganistão.
Enquanto Índia, China, Paquistão, Irã e Rússia disputam a influência, a maioria dos especialistas acredita que todos temem uma saída militar apressada, e um vácuo de poder caótico que poderia se seguir.
Esses temores têm tanto a ver com economia quanto com segurança. Índia, China e Rússia, por exemplo, têm explorado maneiras de utilizar as vastas reservas minerais do Afeganistão e apoiaram grandes projetos rodoviários que poderiam novamente fazer do país um polo de transporte regional. Mas esse objetivo só poderá ser alcançado quando parar o tiroteio, e, portanto, todas as potências têm interesse em empurrar para a paz as partes que guerreiam no Afeganistão.
Vali Nasr, que deixou o Departamento de Estado americano em abril, disse que "as rodas estão travadas" na aliança EUA-Paquistão: como nenhum dos lados confia no outro, os EUA não podem exercer a influência que teriam no Paquistão.
Ele diz que uma melhor estratégia é convencer China, Arábia Saudita e outros países como os Emirados Árabes Unidos de que seria um péssimo resultado se o Paquistão implodisse.
É uma tática de medo, ele admite. Mas, com uma batalha pela alma do Paquistão sendo travada entre os islâmicos, o setor de segurança e uma classe média moderada, Nasr vê a desunião nacional como uma clara possibilidade. E, com a região dotada de armas nucleares, isso poderia representar uma ameaça. "Estamos nos comportando como se matar Bin Laden fosse nosso último interesse no Paquistão", ele disse. "É incrivelmente perigoso."


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