São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

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Rebelde líbio em busca de recursos e esperança

Por KAREEM FAHIM
BENGHAZI, Líbia - Era preciso pagar por um navio-tanque de diesel combustível, campos petrolíferos precisavam de proteção, e um grupo de jovens queria ajuda para evitar ser despejado.
Durante horas em um domingo recente, o ministro das Finanças dos rebeldes da Líbia, Ali Tarhouni, recebeu pedidos e procurou soluções para crises.
Os ataques aéreos da Otan estão há meses impedindo que o reduto dos rebeldes aqui em Benghazi seja invadido pelas tropas do coronel Muammar Gaddafi. Mas os rebeldes estão quebrados.
Tarhouni disse que, caso o governo qatariano, maior fonte de apoio financeiro dos rebeldes, não "venha nos resgatar", pagando pelo diesel combustível que está fora do alcance deles, em um navio ancorado ao largo da costa, a eletricidade será cortada em Benghazi. "Temos apenas alguns dias antes de ficarmos sem luz."
Como administrador das finanças dos rebeldes, Tarhouni ficou conhecido como líder pragmático que, nos primeiros dias do levante, ordenou aos rebeldes que roubassem a agência do Banco Central em Benghazi, onde encontraram mais de US$ 320 milhões. "Basicamente, abrimos buracos com furadeiras", ele contou, explicando como arrombaram o cofre.
Tarhouni ocupa posição singular entre os líderes da oposição. Como professor de economia dotado de viés populista, ele forma uma ponte entre tecnocratas que retornaram do exílio ou vivem no exterior e acadêmicos e ex-integrantes do regime de Gaddafi. Ele não mede as palavras para descrever as dificuldades extremas vividas pelos rebeldes, empregando palavrões quando fala de doadores que demoram em concretizar seus pagamentos.
Ao mesmo tempo, Tarhouni -que, de uma hora para outra, tirou licença do trabalho de professor de economia da Universidade de Washington para se unir à revolução, e cuja esposa e quatro filhos permanecem em Washington- pode parecer um político habilidoso, distribuindo apertos de mão e posando para fotos.
Mas ele se ocupa principalmente em buscar dinheiro, e isso não tem sido fácil, não desde que os rebeldes roubaram o banco. Um esforço para obter empréstimos dos Estados Unidos avalizados por ativos líbios congelados fracassou. "Tive duas reuniões com o Tesouro. Em última análise, elas não foram produtivas, segundo minha maneira de pensar", disse ele.
E Tarhouni, filho de um comerciante de Benghazi, tampouco conseguiu acessar a riqueza petrolífera líbia. Depois dos ataques lançados contra instalações petrolíferas pelos soldados do coronel Gaddafi em abril, a produção de petróleo foi prejudicada.
É difícil prever os papéis que Tarhouni e outros líderes rebeldes poderão exercer no futuro. Eles já disseram que não vão se candidatar em uma eleição potencial após a saída de Gaddafi do poder, mas que poderão ser candidatos em eleições subsequentes.
Num domingo recente, Tarhouni começou cedo sua busca diária por dinheiro -por volta das oito e meia da manhã em uma mansão italiana dos anos 1930. Ele e cerca de dez assessores se sentaram com laptops em volta de uma longa mesa de conferências, discutindo quem deveria negociar com o navio-tanque e como coordenar os pagamentos feitos a cidades no oeste da Líbia, sob ataque dos soldados de Gaddafi e urgentemente necessitadas de dinheiro e do combustível do navio.
"Tenho áreas que estão cercadas, pessoas que estão morrendo, e não tenho como lhes dar ajuda", disse Tarhouni. "Não sei se essa mensagem simples está chegando a nossos amigos." Enviados dos EUA e da França visitaram sua sala de trabalho e não levaram respostas para os problemas.
Por volta das quatro horas da tarde, Tarhouni deixou a sala para tentar tirar um cochilo, mas um assessor o chamou assim que ele tirou os sapatos. Em entrevista coletiva, ele exortou governos estrangeiros a mandar dinheiro.
Ainda mais tarde, enquanto percorria um centro para jovens em um prédio que antes era da segurança do governo, Tarhouni perguntou aos ativistas jovens sobre suas finanças mensais e falou com franqueza sobre sua incapacidade de ajudar. "Infelizmente, estamos falidos", ele disse.


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