São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Entre alguns animais, o pai surpreende

Por NATALIE ANGIER
Cientistas vêm documentando recentemente casos surpreendentes de animais machos que cuidam de sua prole com uma atenção que durante muito tempo se pensou ser atributo exclusivo das mães.
Escrevendo no periódico "Animal Behaviour", Julia Fischer, do Centro de Primatas alemão em Göttingen, descreve como o macaco-de-Gibraltar macho usa os filhotes como "ferramentas sociais custosas" para formar vínculos com outros machos e fortalecer sua influência social.
"Muitos primatas se rendem diante de bebês", disse Sarah Hardy, especialista em primatas e autora de "Mothers and Others".
Mas não são apenas primatas que agem assim. Entre algumas aves grandes e que não voam, como os emus e as emas, o macho é o único a cuidar do ninho. Cientistas encontraram evidências de que esse tipo de cuidado da prole centrado nos pais talvez represente o programa primordial das aves, algo que remete aos seus famosos ancestrais, os dinossauros.
Alguns peixes atuam de forma semelhante. Cientistas descobriram que o peixe-cachimbo macho modifica o fluxo de nutrientes a seus bebês em gestação, de acordo com como está se sentindo em relação à mãe deles.
A promiscuidade é comum, e a paternidade é incerta entre 90% das espécies mamíferas. A maioria dos primatas do mundo, contudo, se inclui entre os outros 10%.
Por exemplo, quando os saguis-de-cabeça branca e os saguis comuns machos descobrem que uma parceira sua está grávida, seus hormônios e as conexões dendríticas em seus cérebros se modificam e eles ganham peso -tudo isso para se prepar para o trabalho de levantamento de peso.
Os saguis e tamaris fêmeas geralmente dão à luz gêmeos, e a partir do momento em que os filhotes nascem, o macho os carrega pela maior parte do tempo. Ele os segura no colo. Quando salta de um galho a outro, os gêmeos se agarram às almofadas termais reconfortantes situadas entre suas omoplatas. Se os bebês choram, é ele quem deve pegá-los no colo.
Os saguis e tamaris se tornam pais ótimos, porque suas parceiras são as abelhas-rainhas da fertilidade.
Uma mãe sagui não teria como suportar o desgaste energético de carregar gêmeos em crescimento. Não quando se espera dela que produza leite em dose dupla e engravide novamente duas semanas após dar à luz.
"Quando comecei a observar os macacos, achei que as fêmeas eram malvadas", comentou Sofia Refetoff Zahed, da Universidade de Wisconsin. "Os bebês tentavam pegar comida, a mãe agarrava a comida de volta e ia embora. Já o pai entregava sua comida a eles."
"Então engravidei de meu segundo filho enquanto eu ainda estava amamentando o primeiro", prosseguiu.
"Foi então que entendi. A gente fica mal-humorada."
Mas o fascínio dos macacos-de-Gibraltar machos pelos bebês pode não parecer tão benéfico assim para os filhotes. Dias depois de nascer, cada filhote pequeno é sujeito a ser manuseado por machos. "Um macho costuma aproximar-se de uma mãe bem devagar e então aproveitar sua chance e agarrar o filhote", contou Fishcer.
"Ele carrega o filhote sob sua barriga ou em seus braços e então se aproxima dos outros machos de maneira amigável."
"Se os machos não estivessem carregando um filhote, não poderiam interagir. Haveria tensão demais entre eles."
Um macho pode passar horas segurando um filhote. Inicialmente, os pesquisadores imaginaram que o fato de carregarem os filhotes exercesse um efeito tranquilizador sobre os machos, mas, ao medirem os níveis hormonais dos macacos-de-Gibraltar, constataram o contrário: carregar um filhote pequeno eleva os níveis de hormônios de estresse do macho. A hipótese atual dos cientistas é que os machos usam os filhotes, nas palavras de Fischer, "para mostrar aos outros machos que são capazes de suportar o estresse".


Texto Anterior: Chips terão ainda mais memória
Próximo Texto: Descoberto um parente 'kickboxer' do velociraptor

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.