São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Chips terão ainda mais memória

Por JOHN MARKOFF
Cientistas da Universidade Rice e da Hewlett-Packard anunciam que já são capazes de superar uma barreira fundamental ao prosseguimento do processo acelerado de miniaturização da memória dos computadores, que tem estado à base da revolução dos eletrônicos para consumidores.
Os limites físicos e financeiros enfrentados pelos fabricantes de chips eram tão grandes que especialistas temiam que uma desaceleração do ritmo da miniaturização pudesse frear a capacidade de embutir mais potência em aparelhos menores, como laptops, smartfones e câmera digitais.
Mas os novos anúncios, feitos no final de agosto, somados às tecnologias concorrentes nas quais estão investindo empresas como IBM e Intel, oferecem esperanças de que o freio não seja aplicado no futuro próximo.
Em um dos avanços recentes, pesquisadores da universidade Rice, em Houston, Texas, estão relatando na "Nano Letters", periódico da Associação Americana de Química, que construíram switches digitais pequenos, uma parte essencial da memória de um computador, que podem encolher para uma escala muito menor do que é possível com métodos convencionais.
O que é mais importante ainda é que o avanço é baseado no dióxido de silício, um dos elementos básicos da indústria dos chips, fato que facilita o avanço em direção à comercialização. Os cientistas dizem que a empresa texana recém-criada PrivaTran produziu, usando a técnica, chips experimentais capazes de armazenar e recuperar informações.
Esses chips armazenam apenas mil bits de dados, mas, se a nova tecnologia tiver êxito, dentro de cinco anos pode ser possível produzir chips únicos que armazenem tanto quanto os discos rígidos de maior capacidade existentes hoje. O novo método envolve filamentos tão finos quanto apenas cinco nanômetros de espessura -menor do que a indústria espera alcançar até o final da década, usando as técnicas padronizadas. A descoberta inicial foi feita por um pesquisador de pós-graduação na Rice.
Em separado, a Hewlett-Packard está formando uma parceria comercial com uma grande empresa de semicondutores para produzir uma tecnologia relacionada que também possui o potencial para elevar a armazenagem de dados de computadores para densidades astronômicas na próxima década. A HP e os cientistas da Rice estão produzindo chamados memristors, ou resistores de memória, switches que retêm informações sem uma fonte de energia.
"Há muitas novas tecnologias disputando atenção", disse Richard Doherty, presidente do Envisioneering Group, empresa de pesquisas de mercado com eletrônicos para consumidores, sediada em Seaford, Nova York.
"Estamos falando da capacidade de armazenar centenas de filmes em um único chip."
Os anúncios são importantes porque indicam que a indústria de chips pode encontrar uma maneira de preservar a validez da Lei de Moore. Formulada em 1965 por Gordon Moore, co-fundador da Intel, a lei é uma observação de que a indústria tem sido capaz de dobrar aproximadamente a cada 18 meses o número de transistores que podem ser impressos sobre uma bolacha de silício.
Isso tem estado à base de aprimoramentos imensos nas capacidades tecnológicas e econômicas nas últimas quatro décadas e meia. Nos últimos anos, porém, o consenso do setor passou a ser que o fim dos avanços físicos na redução das dimensões dos semicondutores estaria iminente. Hoje, os fabricantes de chips se veem diante de desafios físicos e financeiros tão graves que estão gastando US$ 4 bilhões ou mais em cada fábrica nova de produção de chips avançados.
A HP vem afirmando há alguns anos que sua tecnologia de memristor poderá competir com os transistores tradicionais, mas agora a empresa sente confiança na possibilidade de sua tecnologia competir comercialmente no futuro.
Já o avanço obtido na Universidade Rice ainda falta ser comprovado. Reconhecendo que os pesquisadores precisarão superar reações de ceticismo, porque o dióxido de silício já era conhecido pela indústria como isolante, Jim Tour, especialista em nanomateriais na universidade, disse acreditar que a indústria terá que olhar para a nova abordagem dos pesquisadores com seriedade.
"Não será fácil vender essa ideia, porque, à primeira vista, é óbvio que não vai funcionar", disse. "Mas minha esperança é que isto seja tão simples que eles o incluam em seus portfólios de coisas a explorar."


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