São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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O que realmente funciona em terras gregas?

A abertura de uma das economias mais fechadas da Europa

Por LANDON THOMAS Jr.

KOMOTINI, Grécia - Demetri Politopoulos diz que sofreu incontáveis indignidades em seus 12 anos de luta para construir uma microcervejaria e arrancar uma pequena fatia do mercado grego da cerveja do colosso holandês Heineken.
Seus pneus foram cortados e seus produtos foram vandalizados por desconhecidos, ele conta, e sua cervejaria vem recebendo telefonemas ameaçadores. Tudo isso foi ruim, mas nada o preparou para a seguinte realidade: descobrir que estaria infringindo a lei se tentasse concretizar seu sonho empreendedor -fazer sua cervejaria produzir e exportar garrafas de uma bebida feita de chá de ervas.
Um edito obscuro prevê que as cervejarias da Grécia produzam cerveja e nada mais. Politopoulos diz que isso é emblemático da rede de restrições, monopólios e outras distorções que tornaram pouco competitivas muitas empresas gregas, levando o país para perto da falência.
"Por que você acha que ninguém se dispõe a investir na Grécia?", ele perguntou.
Entre 2005 e 2010, o custo da mão de obra grega tem sido, em média, 25% mais alta que na Alemanha, segundo uma análise recente (Irlanda, Portugal e Espanha também têm mão de obra relativamente cara).
O Fundo Monetário Internacional e o governo grego concordam quanto à necessidade de reformas como a redução dos impostos, a facilitação dos trâmites para empresas interessadas em obter autorizações de investimento e a revogação das leis desatualizadas que impõem restrições aos negócios. De acordo com George P. Zanias, principal assessor econômico do ministro das Finanças, George Papaconstantinou, "historicamente falando, o lado da oferta da economia foi relegada ao descaso -era apenas questão de aumentar a demanda".
Para Zanias, as empresas na Grécia ficaram gordas e ociosas, vendendo seus produtos em uma das economias mais fechadas da Europa, eternamente estimulada por gastos deficitários.
No passado, a Grécia exportava apenas 20% de sua produção -o índice de exportação mais baixo da Europa. Concretamente, o país tem tido dificuldade em produzir bens e serviços que as pessoas queiram comprar, e o resultado disso vem sendo um deficit comercial persistentemente alto. Agora, com o governo pressionado e sem condições de contrair empréstimos, as empresas gregas estão sendo obrigadas a vender seus produtos no exterior.
Zanias aponta para o lado positivo, como um aumento de 40% nas exportações em novembro passado. Ele chama a atenção para o fato de ter sido aprovada uma lei que visa acelerar projetos de investimento estrangeiro de grande escala. Mas ele tem consciência dos danos de longo prazo já causados à iniciativa capitalista no país. "A Grécia nunca foi um lugar fácil para se fazer negócios", pondera.
Nada disso é novidade para Politopoulos, que estudou no Instituto Stevens de Tecnologia, em Hoboken, Nova Jersey, antes de retornar à Grécia para abrir sua cervejaria.
Em 1995, ele persuadiu seu irmão e seu pai -proprietário de um hotel Best Western em Atenas- a apostar em sua convicção de que a Grécia seria "um excelente lugar para abrir uma cervejaria".
As cervejarias vêm apresentando lucros extraordinários em economias emergentes, desde o Brasil até a Turquia, a África do Sul e o México. Politopoulos esperava reproduzir esse padrão.
O empreendedor de 47 anos está determinado a recuperar os 11,5 milhões de euros que seu pai e seu irmão investiram em seu projeto. "Prefiro morrer a perder esse dinheiro", admitiu.
Mas, quando ele abriu sua empresa, a Macedonian Thrace Brewery, o domínio da Heineken sobre o mercado grego de cerveja era tão abrangente que a cor verde da garrafa padrão da empresa já se tornara sinônimo de cerveja. A Heineken domina 72% do mercado de cerveja na Grécia (em dado momento, dominou 90%).
Quando Politopoulos primeiro anunciou seus planos, a reação foi de espanto na Grécia. Ele dizia às pessoas: "Vamos produzir uma ótima cerveja local", e os clientes potenciais respondiam: "Mas a Grécia já tem uma cerveja. É a Heineken." "Sim, mas nossa cerveja será chamada Vergina. Terá sabor ótimo e custará menos."
Embora a Vergina domine 5,5% do mercado, atrás apenas da Heineken e da Carlsberg, é difícil encontrar a cerveja nos grandes hotéis e restaurantes.
A comissão grega que fiscaliza a concorrência vem investigando práticas negativas no mercado de cerveja desde 2002, e um porta-voz da comissão disse que uma decisão será anunciada no prazo de um ano.


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