São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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Jogador recusa US$ 12 milhões

"Eu estava ganhando um valor maluco para nem sequer arremessar. Senti que não merecia o salário"
GIL MECHER

Por TYLER KEPNER

O contrato garantido é um dos princípios fundamentais da Major League Baseball (que agrega as duas maiores ligas de beisebol da América do Norte). Não importa qual seja o desempenho de um jogador ou sua forma física, ele deve ser pago. Apenas em casos raros, um jogador deixa de receber o salário -se sofre uma lesão fora da quadra ou comete um erro crasso de conduta pessoal.
Mas o caso de Gil Meche é raro por uma razão diferente. Arremessador destro de 32 anos, Meche tinha um contrato com os Kansas City Royals que previa que receberia salário de US$ 12 milhões em 2011. Mas ele não vai comparecer aos treinos de primavera. Não vai fazer cirurgia para reparar seu ombro direito, no qual sente dores crônicas.
Meche aposentou-se no mês passado, o que significa que ele não receberá nada. "Quando assinei meu contrato, meu objetivo principal era jogar para fazer jus ao salário", disse o jogador. "Quando comecei a perceber que eu não estava merecendo o dinheiro, fiquei mal. Eu estava ganhando um valor maluco para nem sequer arremessar. Honestamente, não senti que eu merecia o salário. Não quero voltar a ter esse sentimento."
A decisão de Meche está na contracorrente da tendência mais comum -do atleta moderno que procura enriquecer ao máximo. Ao longo dos anos, houve atletas americanos que receberam menos para jogar por um time em relação a outro, tendo Cliff Lee sido o mais recente destes, quando concordou em arremessar para os Philadelphia Phillies. E Ryne Sandberg aposentou-se dos Chicago Cubs em 1994, abrindo mão de US$ 16 milhões. Mas existem poucos paralelos ao que Meche fez. No lugar disso, é mais comum um jogador lesionado apresentar-se para os treinos da primavera, passar por uma farsa de reabilitação e receber seu salário. Mo Vaughn, dos New York Mets, ganhou US$ 15 milhões em 2004, apesar de um joelho artrítico haver encerrado sua carreira um ano antes.
Os Royals assinaram com Meche um contrato de cinco anos no valor de US$ 55 milhões, sem intermediários, antes da temporada de 2007, quando ele entrou no time All-Star de jogadores de elite. Meche arremessou bem na temporada seguinte, mas, em meados de 2009, seu corpo começou a apresentar problemas. Na temporada passada, começou jogando em nove partidas, sem nenhuma vitória. Mesmo assim, o time previa que Meche fosse arremessar nesta temporada e que pagaria US$ 12 milhões a ele. Os Royals achavam que Meche seria uma influência positiva sobre os jovens.
Mas, sendo pai divorciado de três filhos, Meche acha que seus filhos -que têm sete, cinco e três anos- precisam dele mais do que seus colegas de equipe precisam. Ele disse ao gerente-geral dos Royals, Dayton Moore, que não queria receber nada do salário que lhe era devido.
"Meche achou que a organização o tratou bem e que ele sentia a necessidade, não de retribuir, mas de fazer o que lhe parecia ser a coisa certa", comentou Moore. "Não estou dizendo que, se um jogador decide fazer o melhor que pode e cumprir seu contrato, isso seja a opção errada. Mas Gil fez o que sentiu que era o certo."
Meche não tem planos específicos, exceto viver em sua cidade natal no Louisiana e ver seus filhos sempre que quiser.
"Não se trata de ser herói, nem de longe", afirmou Meche. "Quero apenas voltar a um ponto na minha vida em que me sinto completamente à vontade."


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