São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Os chefes guerreiros colombianos atrás do ouro

Minas ilegais se multiplicam com a alta dos preços

Por SIMON ROMERO

CAUCASIA, Colômbia - Aproveitando uma década de constantes aumentos nos preços do ouro, combatentes de vários lados na guerra interna que se trava há 40 anos na Colômbia estão passando para o garimpo.
Entre eles há guerrilheiros de esquerda das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, e bandos armados que surgiram das cinzas dos esquadrões paramilitares de direita.
Enquanto as autoridades colombianas alegam vitórias em bombardeios a comandantes rebeldes e na erradicação de vastas plantações de coca -a planta usada para fazer cocaína, há muito tempo a principal fonte financeira dos rebeldes-, facções resistentes se adaptaram, aderindo à corrida do ouro que, em todas as bacias fluviais ao redor de Medellín, destrói a floresta e deixa para trás paisagens lunares.
Novas minas surgem quase toda semana, enquanto o preço do ouro continua se aproximando do seu recorde histórico. O papel dos guerrilheiros e de novos sindicatos do crime nessa corrida transformou Antioquia -o departamento cuja capital é Medellín- em uma das regiões mais mortíferas e ambientalmente devastadas.
Os garimpeiros usam mercúrio líquido para separar o ouro dos sedimentos do rio. Estima-se que 60 toneladas do metal sejam liberadas no meio ambiente dessa província a cada ano, por cerca de 30 mil mineiros que participam da corrida do ouro.
"A Colômbia ocupa o vergonhoso primeiro lugar como maior poluidor do mundo com mercúrio por causa do garimpo", disse Marcello Veiga, engenheiro de minas que conduziu um estudo da ONU sobre contaminação por mercúrio em Antioquia.
Mais de 60 ataques com granadas foram realizados no ano passado em Caucasia, cidade de cerca de 100 mil habitantes com um bairro central de lojas que compram ouro. Eles envolveram principalmente dois bandos armados, os Urabeños e os Rastrojos, que pretendem controlar os garimpos.
Os dois grupos teriam mais de 1.200 combatentes em suas fileiras. Cada um deles surgiu de grupos paramilitares que deveriam ter sido desmobilizados. Às vezes, esses herdeiros dos paramilitares trabalham com as Farc, ilustrando a natureza pós-ideológica do conflito atual. Mas também ocorre violência entre esses bandos e agentes urbanos das Farc, elevando o índice de homicídios em Caucasia para 189 por 100 mil habitantes no ano passado, comparado à média nacional de 35 por 100 mil, segundo as autoridades.
Bandos de guerrilheiros e criminosos estão entrando no ouro não apenas porque é rentável, mas por ser produto legal, ao contrário da cocaína, disse Leiderman Ortíz, jornalista que relatou a nova dinâmica do comércio de ouro na região.
O presidente Juan Manuel Santos disse que as Farc haviam indicado um comandante com nome de guerra Maurício para supervisionar as atividades de mineração do grupo.
Santos ordenou batidas contra mais de 50 minas ilegais nas últimas semanas. Em um dia de fevereiro, forças de segurança foram transportadas em helicópteros de Caucasia para Antioquia e a região vizinha de Córdoba. Um esquadrão de elite da polícia desceu sobre uma mina perto da aldeia de Cargueros, onde cerca de cem garimpeiros trabalhavam sob o sol quente.
"Hoje é muito mais difícil plantar coca por causa da erradicação, então quais são minhas opções?", disse o garimpeiro Elkin Jiménez, 30. Em um mês bom, segundo ele, consegue ganhar US$ 1 mil, o triplo do salário mínimo da Colômbia.
Em tom discreto, vários mineiros disseram que têm de pagar proteção para trabalhar.
Os garimpeiros reagiram ferozmente quando soldados tentaram prender um deles na mina. Empunhando paus, avançaram para os soldados armados de metralhadoras, exigindo a libertação de seu companheiro. A tensão pairou no ar até que os soldados soltaram o homem.
Um mineiro de Anorí, Octaviano Hernández, colocou em termos simples como funciona o poder na região da corrida do ouro: "Só sei que quem tem a arma dá as ordens".


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