São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Iraquianos festejam derrubada de muro

Bagdá busca normalidade antes de cúpula árabe

AYMAN OGHANNA PARA O NEW YORK TIMES
Um muro antiexplosão erguido há três anos em Sadr City intensificou a segurança, mas também isolou um bolsão de lojas. Crianças brincam no entulho de um muro demolido

Por JACK HEALY

BAGDÁ - É apenas um muro, em uma cidade que tem milhares -uma linha de blocos cinzentos que percorre, como uma cicatriz, um dos bairros mais violentos. Erguido há três anos para impedir ataques contra comboios militares, o muro antiexplosões de cinco quilômetros de extensão no grande bairro xiita de Sadr City tornou-se um símbolo da ira e do desespero da população diante dos anos de ocupação militar.
O muro fechou um bolsão de estabelecimentos comerciais e barbearias, encerrando cerca de 1.500 moradores em um canto de Sadr City atrás de uma cortina de concreto. As lojas foram fechadas. Casas foram abandonadas.
Recentemente, porém, uma máquina de terraplanagem e um guindaste chegaram ao bairro e, sem muito alarde, iniciaram uma tarefa que deixou os moradores espantados: retiraram o muro.
"Nós o chamávamos de o nosso Muro de Berlim", contou Saad Khalef, 41. Desde o final de 2008, o governo iraquiano vem demolindo muros antiexplosões, na tentativa de devolver a esta cidade de 6 milhões de habitantes alguma aparência de normalidade. E a aproximação da reunião anual da Liga Árabe, adiada deste mês para maio em função da instabilidade na região, está levando o Iraque, que se prepara para ser anfitrião do encontro, a intensificar seus esforços. O governo vem demolindo muitos muros na fortemente protegida Zona Verde e arrancando telas de arame antiatiradores do alto de viadutos, na esperança de mostrar aos líderes visitantes uma capital menos ameaçadora.
"Estamos muito felizes, digo do fundo de meu coração", disse uma mulher que deu seu nome como sendo "Um Qasim" ou "Mãe de Qasim". "Espero que deem ordens para demolir todos os muros."
As chances de isso vir a acontecer são poucas. Bagdá ainda é um labirinto de muros, e atacantes vêm explorando as tentativas do governo de remover barreiras erguidas perto de imóveis governamentais, escritórios e outros alvos de alto valor. Em agosto de 2009, enormes caminhões-bombas explodiram diante dos Ministérios do Exterior e das Finanças, matando dezenas de pessoas em um lugar antes protegido por barreiras de concreto.
Mas, na rua da Estação de Gás, em Sadr City, onde o muro mais recente estava sendo removido, poucos se preocupavam com ataques. Qualquer coisa, disseram moradores, seria melhor que o muro alto que os isolara. "Era como se estivéssemos em uma prisão", disse Khalid Hussein, 34.
Vizinhos se queixavam de terem sido separados de familiares e amigos que viviam do outro lado da rua e diziam que o trajeto até o hospital ou a delegacia de polícia, normalmente coberto em cinco minutos, podia demorar mais de uma ou duas horas quando as forças de segurança bloqueavam as barreiras de entrada ou saída.
"Todas as lojas morreram", disse Hussein Faleh, 41, apontando para uma fileira de fachadas de lojas fechadas e placas de "aluga-se". "Olhe -todas estão vazias."
Mas, desde sua barraca de frutas, Mustafa Qadim, 16, disse que pelo menos já consegue enxergar o outro lado da rua. Ele olhou para o outro lado: um terreno baldio, um esqueleto de aço enferrujado e um prédio marcado por fragmentos de bombas. Era essa a vista. "É linda", falou.


Texto Anterior: Os chefes guerreiros colombianos atrás do ouro
Próximo Texto: Diário de Hong Kong: Brinde aos noivos com direito a milk shake

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.