São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Chef dá chance para imigrantes em cozinhas de alto nível

Por STEVEN ERLANGER

SARCELLES, França - Sob alguns aspectos, não passa de uma gota de azeite de oliva caro em um lago lodoso, mas, para 15 mulheres desta comuna pobre da periferia parisiense, é uma chance de terem uma carreira estável e nutritiva, embora difícil.
Inspirado na recomendação feita pelo ex-presidente Clinton de que cada empresário fizesse o que pudesse para ajudar outras pessoas, o top chef e empresário Alain Ducasse está fazendo as mulheres passarem por um curso de culinária profissional, com rigorosa experiência de trabalho em um de seus restaurantes e um emprego garantido para as que conquistarem seus certificados.
Todas as mulheres vivem em Sarcelles. Elas nasceram fora da França ou são filhas de imigrantes. A maioria tem profundo interesse pela culinária, mas pouco conhecimento da cozinha francesa, sendo acostumada, em vez disso, às tradições culinárias do norte da África. Lynda Kabchou, 34, nasceu na Argélia e tem três filhos. Ela se sente grata pela oportunidade, mas não acha que seja um gesto de condescendência. Incluindo as horas que passa para se deslocar de ida e volta ao centro de Paris, onde está trabalhando no restaurante principal de Ducasse, o luxuoso Plaza Athenée, ela passa quase 12 horas diárias longe de casa. Originalmente enviada a outro restaurante de Ducasse, o Aux Lyonnais, ela não tinha problemas em preparar e cozinhar carne de porco, mas, sendo muçulmana, se negava a experimentá-la. Assim, viu concedido seu pedido de ser transferida para o Plaza.
"Elas estão aprendendo a cortar, temperar, cozinhar, reduzir e degustar", disse Ducasse. "O domínio perfeito da arte está no conhecimento especializado." Ele nomeou um "professor" para acompanhar cada uma delas.
Aziza Berkouki, 26, nasceu na França, filha de pais marroquinos. Casada aos 19 anos, tem duas filhas, de seis e três anos, e diz que tem sorte porque seu marido, que trabalha numa fábrica de tintas, se dispõe a cuidar da faxina da casa. "Eu nasci na cozinha", disse ela, descrevendo como aprendeu a cozinhar com sua mãe e sua avó. Ela gostaria de ter seu próprio restaurante algum dia, no qual fará uma fusão das culturas francesa e marroquina. "Sou inteiramente francesa, mas inteiramente marroquina", explicou. "Quero essas duas nacionalidades presentes em minha culinária."
Mas Berkouki disse que a experiência é difícil. No restaurante Ducasse em que trabalha, o Benoit, "é difícil", explicou. "É um mundo de homens. O chef é durão". Algumas das outras pessoas a veem como "a árabe".
Em breve, as mulheres vão passar três dias por semana nos restaurantes e outros dois dias em moderna escola profissional para aprendizes, em Villiers-le-Bel.
Ducasse disse que o projeto é como cozinhar. "A culinária começa como uma satisfação pessoal; é algo muito egoísta. Primeiro, fico satisfeito com o que fiz e, só depois, quero compartilhar com outros. Primeiro, você prepara algo para você mesmo e, apenas depois, você dá o que preparou para outra pessoa."


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