São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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'Harry Potter' não quer mais ser mago

"Se eu realmente conseguir, depois de ter feito uma das maiores franquias da história do cinema, então isso pode encerrar o debate"
DANIEL RADCLIFFE

Por DAVE ITZKOFF

Parece justo dizer que nunca um astro adolescente cresceu como Daniel Radcliffe, e que ninguém esperava que ele ficasse como ficou.
Certamente, seu sucesso no cinema obtido na pele do personagem Harry Potter, uma série que já arrecadou mais de US$ 6,3 bilhões, lhe rendeu enorme reconhecimento e fortuna. Estima-se que Radcliffe recebeu de US$ 20 milhões a US$ 25 milhões por cada um dos seus dois últimos filmes nesse papel.
Agora, após uma década interpretando o menino mago, ele se prepara para assumir o papel principal da nova montagem do musical "How to Succeed in Business Without Really Trying", na Broadway.
"Se eu realmente conseguir", disse Radcliffe, 21, sobre sua aventura nos palcos, "depois de ter feito uma das maiores franquias da história do cinema, então isso pode encerrar o debate". "É possível. Essa é a minha missão."
Radcliffe não parece possuir a arrogância ou petulância que normalmente acompanham a fama e a fortuna. Inquieto e com os olhos arregalados, ele é rápido ao se descrever como um "geek" mundano.
Mas, quando se trata de sua carreira -o oitavo e último "Harry Potter" será lançado em meados de 2011-, Radcliffe fica extraordinariamente sério. Contou, com sinceridade quase religiosa, por que escolheu uma peça de 50 anos de idade, sátira ao mundo corporativo americano, para se despedir do personagem que o revelou: "Para provar que um ator infantil pode chegar a ter uma carreira longeva".
Radcliffe estreou na Broadway em 2008, na remontagem de "Equus", drama psicológico de Peter Shaffer, depois levado a Londres. Interpretando o perturbado jovem Alan Strang, num papel em que chegava a aparecer nu rapidamente, Radcliffe atraiu grande atenção, assim como elogios da crítica.
Para aquele papel, ele fez aulas de canto, e espalhou-se o rumor de que talvez o rapaz tivesse ambições maiores.
Mas, numa reunião com Craig Zadan e Neil Meron, dois dos produtores de "How to Succeed...", Radcliffe disse não ter certeza de que estava qualificado para fazer um musical na Broadway.
E, em outro momento, ao ser procurado pelo diretor e coreógrafo Rob Ashford, Radcliffe se lembra de ter dito: "Tá legal, vou fazer aulas de dança, tudo bem. Mas o senhor está nadando contra a maré aqui, sr. Ashford".
Zadan, no entanto, tinha uma opinião um pouco diferente e acha que Radcliffe tinha o "desejo secreto" de estrelar esse musical, ganhador do Prêmio Pulitzer, que narra a trajetória do personagem J. Pierrepont Finch, de lavador de janelas a presidente de um conselho empresarial.
"Acho, para muita gente, é uma escolha ligeiramente confusa", disse Radcliffe. "Mas eu gosto disso." Radcliffe não costuma cantar e nunca havia dançado nem falado com sotaque americano em nenhum papel, mas agora já está há meses treinando para essas tarefas. Ele assume o papel de Finch em uma idade muito mais precoce do que seus antecessores da Broadway, que já tinham passado dos 30.
Num recente ensaio de uma das passagens mais animadas do musical, Radcliffe se dedicava a cada movimento e, com alguma assistência, atirou-se de uma grande mesa de reuniões para os braços dos colegas de elenco. Mas não há como confundir o diminuto ator de 1m65 em meio aos seus colegas; seu parceiro de cena, John Larroquette, de 1m93, poderia facilmente escondê-lo atrás de si.
Radcliffe disse esperar que eventuais deficiências sejam, ao menos temporariamente, compensadas pelo entusiasmo que ele traz. "Se você é suficientemente entusiasmado pelas coisas -mesmo se você não for bom nisso-, o seu entusiasmo leva você ao ponto em que as pessoas lhe permitem fazer a coisa tantas vezes até ficar bom."
Baixando momentaneamente a guarda, Radcliffe confessa sua ansiedade com a forma como será recebido em "How to Succeed...".
Ele recitou uma rápida lista das preocupações: "Medo do fracasso, medo da mediocridade, medo de não alcançar as metas que eu estabeleci para mim mesmo, medo de fracassar na minha missão.". Ele foi firme, no entanto, na sua certeza de que não ficará triste com o lançamento do último filme da série "Harry Potter".
"As pessoas precisam lembrar que não estamos lamentando a morte de uma pessoa real", disse ele. "Não existe um período adequado d
e luto que eu tenha de respeitar."


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