São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Casamentos vêm resistindo à infidelidade

Por BENEDICT CAREY e TARA PARKER-POPE

As especulações sobre o futuro do casamento do governador da Carolina do Sul, Mark Sanford, após seu caso extraconjugal, provavelmente vão desaparecer muito antes do sofrimento da família passar. Mas, a julgar por pesquisas recentes, o próprio casamento do governador tem chances de sobreviver ainda muitos anos.
Apesar das fortes pressões contrárias —a liberalização das leis do divórcio, o fim do estigma que costumava ser ligado à separação, as tentações on-line—, o vínculo do casamento nos EUA do século 21 é muito mais forte do que se supõe.
Pesquisas constatam que a maioria das pessoas que descobre que seu cônjuge está sendo infiel continua casada com ele por anos. Historicamente, o casamento como instituição não tem sucumbido ante a infidelidade, mas convivido com ela, como um organismo convive com o vírus da gripe: enfraquecendo-se às vezes, mas com o tempo desenvolvendo imunidade.
As tentações espreitam inclusive uniões conjugais fortes. Psicólogos das universidades de Washington e da Carolina do Norte relataram que pessoas que descrevem seu relacionamento com seu cônjuge como sendo “bastante feliz” têm duas vezes mais probabilidade de trair que aquelas para as quais seu casamento é “muito feliz”. Mas, dizem pesquisadores, o maior fator de risco para a infidelidade talvez não esteja no casamento, mas fora dele: nas oportunidades.
“As pessoas tendem a supor que pessoas de mau caráter traem e pessoas boas não traem, ou que traições só ocorrem em casamentos ruins”, disse a pesquisadora Peggy Vaughn. “Essas suposições não têm base na realidade.”
O investimento em um casamento duradouro normalmente abrange mais que fidelidade. Os cônjuges compartilham metas de vida, filhos e vínculos fortes com amigos e a comunidade. Existem razões para acreditar que casamentos integrados como esses vêm aumentando de número.
Uma das estatísticas mais lembradas aponta que metade dos casamentos termina em divórcio. Mas esse número reflete o índice de divórcios ao longo da vida de pessoas que se casaram nos anos 70. A história é diferente para casais que se uniram mais recentemente.
Betsey Stevenson, professora de negócios e política pública Universidade da Pensilvânia, disse que um estudo realizado com homens de formação universitária constatou que 23% dos que se tinham casado na década de 1970 tinham se divorciado antes do décimo ano de seu casamento. Entre os homens que se casaram nos anos 1990, cerca de 16% tinham se divorciado até o décimo ano.
Para alguns especialistas, a mudança se deve ao fato de que muitos casais hoje adiam o casamento. Os dados sugerem que os relacionamentos frágeis, que anos atrás poderiam ter resultado em casamento seguido por divórcio, hoje chegam ao fim antes mesmo de o casal subir ao altar.
Quanto aos Sanford, a mulher do governador, Jenny, revelou recentemente que, ao tomar conhecimento da infidelidade de seu marido, pediu a ele que saísse de casa. Mas também revelou que ainda acredita que seja possível salvar seu relacionamento.


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