São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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O advogado temido pelos ricaços britânicos

Por LANDON THOMAS Jr.

LONDRES — “Um tal de sr. Tooth quer falar com o sr. ao telefone.”
Durante anos, bastava a notícia de que o mais famoso advogado de divórcios de Londres, Raymond Tooth, estava ao telefone para espalhar medo entre uma certa classe de homens britânicos endinheirados. O mais provável era que fortuna alguma, por mais bem protegida que fosse, ficaria intacta.
Agora, sob a pressão da crise econômica, cada vez mais mulheres estão procurando Tooth quando se divorciam, visando assegurar-se do máximo possível de riqueza enquanto a fortaleza da fortuna de seus maridos desaba.
“Nunca antes tive tanto trabalho”, disse Tooth recentemente, sentado atrás de uma escrivaninha gigantesca na qual mal cabiam as pastas de seus clientes, abarrotadas de papéis.
Raymond Tooth (o sobrenome significa dentes), 69, é baixo, tem fala macia e ar de cavalheiro. Mas clientes e adversários o conhecem como Jaws (mandíbulas).
Quando se trata da defesa do princípio fundamental para sua clientela, predominantemente feminina —de que cada cônjuge tem direito igual à riqueza do outro—, Tooth não desiste. “Está claro que a parceria entre marido e mulher é uma parceria de iguais”, disse.
Tooth trabalha num mundo em que os homens, muitos deles financistas ricos ou celebridades, frequentemente ganham fortunas.
Um homem de destaque que foi “mordido” recentemente por “Mandíbulas” foi o financista sul-africano Brian Myerson.
Depois de descobrir que Myerson mantinha uma amante e outro filho —que viviam na casa ao lado—, Ingrid Myerson, sua mulher havia 26 anos, pediu o divórcio. O patrimônio de Myerson foi avaliado em 25,8 milhões de libras, ou cerca de R$ 77,7 milhões. Representada por Tooth, Ingrid optou por receber 11 milhões de libras (R$ 33 milhões) em alguns imóveis, enquanto seu marido ficava com 14 milhões de libras (R$ 42 milhões) em ações do fundo de investimentos que administra, o Principle Capital Investment Trust, cujas ações são negociadas em bolsa.
Quando as ações da Principle Capital caíram 90%, no ano passado, Myerson causou espécie nos círculos legais de Londres ao pedir a um tribunal de apelações não apenas para ser absolvido de suas obrigações financeiras remanescentes para com sua ex-mulher, como também para obrigá-la a lhe devolver os 11 milhões de libras. O pedido foi indeferido.
Raymond Tooth sorri ao lembrar-se da audácia de Myerson. Uma coisa é pedir a um tribunal para ser liberado da obrigação de fazer pagamentos futuros em função de uma perda financeira sofrida, mas é outra coisa, disse ele, solicitar a revogação de um acordo inteiro só porque você fez uma interpretação equivocada das tendências do mercado.
Os advogados britânicos dizem que a decisão do tribunal em relação a Myerson criou um precedente legal importante, impedindo o que poderia ter sido uma avalanche de pedidos semelhantes, caso sua apelação tivesse sido aceita.
“Myerson ficou guloso; ele quis ficar com o bolo inteiro”, disse Tooth. “E agora queimou os dedos.”
Tooth exerce sua profissão desde a década de 1960 e chegou a declarar certa vez que “nenhum homem rico e em sã consciência deveria se casar”. É um conselho que ele próprio não conseguiu seguir: já se divorciou duas vezes.
Mas é exatamente essa experiência, somada ao jeito calmo de um psiquiatra, que o leva a criar uma conexão com suas clientes. Entre estas figuram as mulheres de Jude Law e Eric Clapton e também, especula-se, do bilionário oligarca russo Roman Abramovich. Sua assistência não custa pouco: Tooth cobra 500 libras (R$ 1500) por hora de trabalho.
Ele começa dando a suas clientes um conselho simples: vá com calma. “Esta é a decisão financeira mais importante que um cônjuge terá que tomar na vida.”
Ele rejeita a ideia de se aposentar. A vida é boa para Tooth: ele tem 50 cavalos de corrida, uma casa de campo em Warwickshire e uma residência em Antígua. “As pessoas não permanecem juntas em tempos difíceis”, disse ele, sorrindo. “É a natureza humana.”


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