São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Fora do laboratório, celular se converte em microscópio

Por ANNE EISENBERG
Microscópios são ferramentas de valor incalculável para a detecção de doenças como anemia, tuberculose e malária. Mas eles também são volumosos e caros. Agora, um engenheiro, usando um software que ele mesmo desenvolveu e equipamentos comuns de cerca de US$ 10, adaptou celulares para serem usados como microscópios.
"Convertemos celulares em dispositivos que diagnosticam doenças", disse Aydogan Ozcan, professor-assistente de engenharia elétrica e membro do Instituto de Nanossistemas da Califórnia, da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA). Ele montou uma empresa, chamada Microskia, para comercializar a tecnologia. Os celulares adaptados podem ser usados para exames clínicos longe de hospitais, técnicos ou laboratórios, segundo Ozcan.
No protótipo, uma lâmina contendo uma amostra de sangue pode ser inserida sobre o sensor da câmera do celular, que detecta o conteúdo da lâmina e transmite os dados para um hospital ou centro de saúde. O celular pode, por exemplo, detectar a forma assimétrica de células sanguíneas doentes ou células anormais, ou notar um aumento no número de glóbulos brancos -sintoma de infecção.
Os dispositivos de Ozcan são compactos em parte porque eliminaram o elemento central dos microscópios -as lentes-, disse David Brady, diretor do Programa de Imagem e Espectroscopia da Universidade Duke (Carolina do Norte). "Não há necessidade de lentes nesses dispositivos porque a ampliação pode ser feita eletronicamente", afirmou. "A óptica não é necessária."
O sistema de Ozcan pode no futuro levar a uma forma rápida de processar o sangue e outras amostras, disse o físico Bahram Jalali. Uma vantagem, segundo ele, é que "não é preciso varrer mecanicamente" a imagem, como num microscópio comum, com seu campo de visão limitado. "Em vez disso, capturam-se hologramas de todas as células na lâmina, digitalmente, ao mesmo tempo." Assim, é possível, por exemplo, ver os elementos patogênicos em meio a uma vasta população de células saudáveis. "É uma forma de procurar rapidamente uma agulha num palheiro."
O sistema com celulares pode ser particularmente útil na detecção da malária, disse Yvonne Bryson, chefe da divisão de doenças pediátricas infecciosas da Escola David Geffen de Medicina da UCLA, que colabora com Ozcan em vários projetos. "Atualmente, é preciso um microscópio, é preciso gente treinada", disse Bryson. "Mas esse dispositivo permitiria trabalhar sem nada disso numa área remota."
Fatih Yanik, professor-assistente de engenharia elétrica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, disse que "isso possibilita a pessoas comuns colher informações médicas no campo, simplesmente usando um celular adaptado com peças baratas".


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