São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Rivais competem no mar asiático

Por EDWARD WONG

HANÓI, Vietnã - As ilhas Paracel ficam no mar do Sul da China, a 400 km da costa do Vietnã. São uma série de rochas, recifes e nesgas de terra que, ao olhar destreinado, parecem tão valiosas quanto os cacos de coral que vão parar na praia.
Mas o arquipélago e as não muito distantes ilhas Spratly são ricos em depósitos de petróleo e gás natural, e por isso são cobiçados pelas nações que formam um amplo arco em torno do mar do Sul da China.
Vietnã, Taiwan e China têm reivindicações conflitantes nas Paracel, e esses três mais Filipinas, Malásia e Brunei reivindicam as Spratly ou as águas circundantes.
Os mais exaltados são Vietnã e China. Na verdade, não há questão entre ambos que seja mais emocional e intratável.
As tensões subiram mais um grau no mês passado, quando a China anunciou a intenção de desenvolver o turismo nas Paracel, que estão sob controle dos militares chineses desde 1974.
A Chancelaria vietnamita denunciou vigorosamente a decisão chinesa. Discretamente, porém, o Vietnã está empenhado em trazer mais atores internacionais para as negociações, de modo que Pequim tenha de barganhar com todas as nações do Sudeste Asiático que têm reivindicações territoriais no mar do Sul da China.
Essa estratégia de "internacionalização" da questão é algo que países asiáticos menores, como o Vietnã, podem adotar com mais frequência diante do poderio chinês em várias frentes.
As autoridades vietnamitas "estão internacionalizando a questão, e fazendo isso de forma discreta, não de forma direta", disse Carlyle Thayer, especialista em Sudeste Asiático e segurança marítima na Academia da Força Australiana de Defesa. "Eles dizem que querem resolver pacificamente, mas deixando a comunidade internacional levantar a questão."
Neste ano, o Vietnã assume a liderança da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), e especialistas dizem que Hanói deve usar sua posição para tentar persuadir os países a aderir às negociações territoriais com a China.
Em novembro, o Vietnã realizou uma conferência em que 150 acadêmicos e autoridades de toda a Ásia discutiram em Hanói as disputas no mar do Sul da China.
"O tipo de coisa que eu levei embora foi que [a situação] no mar do Sul da China havia se deteriorado ou tinha potencial para se deteriorar", disse Thayer, que esteve no evento.
A China tem exibido sua musculatura naval. Nos últimos dois anos, os chineses prenderam pescadores vietnamitas, ampliaram as patrulhas marítimas e pediram a empresas estrangeiras de petróleo que não trabalhassem com o Vietnã. Uma empresa vietnamita de comunicações estimou que a China tenha detido no ano passado 17 embarcações com 210 pescadores, todos já soltos.
Em dezembro, o primeiro-ministro vietnamita assinou na Rússia um acordo armamentista que supostamente inclui a compra de seis submarinos movidos a diesel e eletricidade por US$ 2 bilhões. Enquanto isso, a China concordou em continuar o diálogo com o Vietnã, mas está disposta a discutir apenas o desenvolvimento conjunto da área, não os direitos soberanos. Pequim se recusa a negociar sob qualquer forma unilateral com todas as nações relevantes do Sudeste Asiático.
Alguns analistas estão céticos quanto aos resultados da estratégia do Vietnã, especialmente se o país decidir impor a questão enquanto presidir a Asean. A associação tem membros sem interesse algum na briga, como Camboja e Mianmar.
"A abordagem do Vietnã enfrenta obstáculos reais", disse M. Taylor Fravel, cientista político do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e autor de um livro sobre questões territoriais chinesas. "É difícil ver como o consenso pode ser construído dentro da Asean senão com um grande confronto armado envolvendo forças chinesas."


Colaborou Xiyun Yang


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