São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Conservacionistas resgatam sapos ameaçados

Por CORNELIA DEAN

Esta é uma história sobre uma cachoeira, o Banco Mundial e 4.000 sapos desabrigados.
Talvez a história tenha um final feliz, e os sapos-dourados, tão pequenos que cabem sobre uma moeda, voltem à garganta africana onde viviam, na neblina de uma cachoeira no rio Kihansi, na Tanzânia.
O rio foi represado, por cortesia do Banco Mundial. A cachoeira é apenas 10% do que era antes, e os sapos estão extintos na natureza.
Mas 4.000 deles sobrevivem no Bronx, em Nova York, e em Toledo, Ohio, onde cientistas da Sociedade de Conservação da Vida Silvestre e do Zoológico de Toledo os mantêm vivos na esperança de um dia devolvê-los a seu habitat. Neste mês, o Zoológico do Bronx vai inaugurar formalmente uma pequena exposição dos sapos.
Enquanto isso, porém, os animais personificam os conflitos maiores entre conservação e desenvolvimento econômico e a complexidade de se tentar preservar e devolver espécies ameaçadas à natureza. Sua história também levanta questões sobre quanto esforço se deve aplicar para salvar uma espécie.
Esses temas são especialmente prementes para sapos, rãs e outros anfíbios, cuja população está despencando em todo o mundo diante de fatores como perda do habitat, mudança climática e doenças.
Jennifer Pramuk, curadora de herpetologia no Zoológico do Bronx, disse que ao menos 120 espécies desapareceram nos últimos anos.
"O número é provavelmente muito maior", diz Pramuk, líder da iniciativa pró-sapos. "Existem áreas da América do Sul onde toda a fauna anfíbia foi eliminada."
Os sapos-da-neblina de Kihansi, Nectophrynoides asperginis, eram desconhecidos pela ciência até 1998, quando foram encontrados vivendo em menos de 2 hectares, talvez a menor área conhecida de qualquer vertebrado. São incomuns porque não põem ovos. Os filhotes surgem totalmente formados, cada um do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Quando os sapos foram descritos pela primeira vez, cerca de 20 mil viviam nas áreas borrifadas pela cachoeira de Kihansi, alimentando-se de pequenos insetos. Mas o governo da Tanzânia, com dinheiro do Banco Mundial, já planejava uma represa rio acima.
Quando a represa foi inaugurada, em 2000, o fluxo da água da barragem caiu 90%, e as plantas nativas dependentes da névoa úmida deram lugar a espécies invasoras. Em poucos meses, a população de sapos despencou. Quando os sobreviventes contraíram uma doença fúngica, a população caiu novamente.
A espécie estava em perigo iminente de desaparecer. Assim, a sociedade de conservação reagiu enviando Jason Serle, na época tratador de animais silvestres, e Tim Davenport, diretor de programas de campo na Tanzânia. Juntamente com cientistas e autoridades locais, eles passaram um dia na cachoeira, coletando 499 sapos e colocando-os em sacolas plásticas com musgo úmido. Os sacos foram colocados em recipientes térmicos para a viagem de volta ao Bronx.
"Foi pegar o avião, coletá-los e voltar", disse Jim Breheny, diretor do zoológico do Bronx.
O problema então era como mantê-los vivos. O zoológico mandou sapos para cinco outros zoos nos EUA, mas só um deles, o de Toledo, conseguiu mantê-los vivos, assim como o do Bronx.
"Ninguém havia mantido esse gênero em cativeiro", diz Pramuk. "Era muito difícil para nós imaginar de que eles precisavam." Os fatores cruciais, não é de surpreender, foram água, iluminação e alimento -muito cuidadosamente preparados.
Alyssa Borek, tratadora do zoológico do Bronx, produziu um alimento criando pequenos insetos como moscas de frutas, vermes de madeira e besouros em caixas plásticas e outros recipientes cheios de cacau, feijões e folhas que ela apanha no terreno do zoológico.
Borek aprendeu tanto que escreveu um guia de acasalamento para a espécie; Pramuk disse que seria útil para qualquer pessoa que crie sapos e rãs. Na verdade, trabalhando com a Associação de Zoológicos e Aquários, os zoos do Bronx e de Toledo vão oferecer seu terceiro curso sobre acasalamento de sapos, em abril.
Enquanto a iniciativa de criar os sapos nos zoológicos avançava, seus números na Tanzânia declinavam até novembro passado, quando a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais declarou o sapo extinto na natureza.
Essa descoberta apresentou a próxima barreira: reintroduzir os animais na natureza. Há "pelo menos o potencial para um programa de restauração viável", disse Breheny, diretor do zoológico do Bronx.


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