São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Um revestimento com aplicações verdes

ANNE EISENBERG
ENSAIO

Imagine que bom seria se, depois do jantar, você pudesse empilhar pratos, vasilhas, panelas e talheres engordurados na pia e deixar que apenas a água enxaguasse a sujeira -sem a ajuda de detergentes e quase sem esfregar.
Revestimentos plásticos que estão em desenvolvimento poderão um dia concretizar essa ideia, tornando louças, espelhos de banheiro e até equipamentos industriais limpos apenas com água.
Os novos materiais podem ser apreciados não só por quem lava a louça, mas também por ambientalistas preocupados com todo o sabão que desce pelo ralo. Os detergentes que acabam na água podem causar o florescimento de algas, entre outros efeitos.
"Queremos cortar o sabão da equação da limpeza", disse Jeffrey P. Youngblood, professor associado de engenharia de materiais na Universidade Purdue em West Lafayette, Indiana (EUA).
Em experimentos, Youngblood e seus colegas colocaram os revestimentos químicos na superfície do vidro. Mas, agora, ele está trabalhando em aditivos de polímeros para líquidos que podem ser colocados em um borrifador e depois usados para limpar espelhos e até óculos ou binóculos.
Os cientistas chamam os revestimentos de autolimpantes, porque, quando aplicados a uma superfície, eles fazem a maior parte do trabalho de eliminar os resíduos de óleo -como marcas de dedos gordurosos. "O óleo forma uma bolha, e, então, a água se move por baixo do óleo, levantando-o para que flutue", disse Kirsten Genson, pesquisadora de pós-doutorado no grupo de Youngblood.
Na limpeza comum, o sabão faz que o óleo nas superfícies sujas se dilua na água como uma emulsão, turvando a água da limpeza. Mas os novos revestimentos permitem que a água desloque o óleo sem sabão, disse John Howarter, um aluno de Youngblood que ajudou a desenvolvê-los e hoje faz pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Padrões e Tecnologia dos EUA. "Fazemos o óleo remover a si próprio", ele disse.
Os revestimentos autolimpantes criados pela equipe de Purdue são feitos de polímeros formados em longas cadeias. Cada parte da cadeia pode ser modificada para ter uma propriedade diferente, disse Stephen G. Boyes, professor assistente de química na Escola de Minas do Colorado, em Golden. Aqui, uma parte tem propriedades semelhantes à do teflon, que incentivam o óleo a se aglomerar, e outra que ajuda a água a lavar o óleo.
Os pesquisadores de Purdue também aplicaram o revestimento a filtros ou membranas que coletam gotas de óleo suspensas na água, mas deixam a água passar, disse Howarter. Essas membranas poderiam ser usadas para limpar um derramamento de óleo ou para purificação da água.
Revestimentos semelhantes também podem ser usados em óculos, parabrisas de carros ou espelhos de banheiro. "Quando você toma uma ducha, o espelho com nosso revestimento não fica embaçado", explicou Genson.


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